Será que Portugal vai a caminho da bancarrota?

Tem aparecido técnicos que colocam esta hipótese para Portugal, mas será que a sua análise é correcta? É claro para mim que o nosso país teve uma década para esquecer na primeira década do século XXI, o que se pode comprovar pelo muito fraco crescimento económico conseguido. O país tem hesitado entre o modelo de especialização anterior, baseado na mão-de-obra barata e uma especialização com capacidade de criar mais valor acrescentado, quer do ponto de vista da arte/moda, quer da investigação aplicada, como no caso da empresa portuguesa que fornece os sistemas biométricos de controlo nas fronteiras ou na construção de eólicas offshore. Estas hesitações, talvez sejam explicadas pela resistência à mudança do poder económico ligado à especialização anterior que tem conseguido influenciar o poder político a continuar políticas que defendem salários baixos. Este problema estrutural tem de ser rapidamente resolvido.

Mas a nossa situação de fraco crescimento da riqueza e a continuação de gastos elevados do Estado criou-nos problemas de credibilidade externa (como a Manuela nos alertou na última campanha eleitoral), que não se podem de todo ser comparados com os da Grécia, pois este país tem uma dívida externa a rondar os 120% contra uns 77% de Portugal. Mas é um facto que para ganharmos credibilidade temos de inverter decididamente a situação, e em primeiro lugar ter uma estratégia de mudança de paradigma para as actividades capazes de criar valor acrescentados com os trabalhadores bem pagos. Depois é preciso controlar a despesa e reconhecer que do lado dos impostos pouco mais há a fazer depois do imposto sobre capitais bolsistas avançar. Não compreendo, pois, a relutância de um governo minoritário continuar sem dialogar com a oposição, a não ser que todos já se estejam a posicionar para novas eleições, o que será bom se houver uma clarificação política e uma campanha que discuta os problemas graves da sociedade portuguesa, o que não está garantido que aconteça, pelo que espero que o Presidente da República tenha muito bom senso na convocação ou não de eleições, que agora para mim não se justificam.

Qual é então a explicação para se falar de bancarrota? A que eu vejo é estarmos perante um ataque ao € e é inquestionável que Portugal e Grécia são os elos mais fracos do € e, portanto, quem quiser atacar o €, fá-lo-á com ataques a estes dois países. Temos, contudo, de deixar de constituir um elo fraco do € e para isso temos de ter uma estratégia para o país que passa pelo abandono do modelo baseado da mão-de-obra barata, mas não passa também por obras públicas que impliquem mais endividamento, como este governo quer. A solução é a aposta em empresas que acrescentem bastante valor ao produto, com base na investigação e no design, redireccionando o QREN para apoiar este tecido dinâmico da economia nacional dando-lhe peso na estrutura produtiva.

Por outro lado é preciso reduzir a despesa, eliminando os desperdícios da administração pública, sem pôr em causa prestações sociais, a saúde e a educação. Esta equação também é difícil, porque queimar gorduras é sempre um esforço que mexe em interesses instalados, mas em momentos de crise é preciso coragem e um rumo definido e consensual.

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