Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2017

A questão das rendas e o investimento

O investimento é absolutamente necessário para a economia, pois é com ele que se constrói o futuro, ao repor ou aumentar a capacidade de produção, inovar e melhorar a tecnologia. Aliás no centro do modelo da esquerda, baseado em salários condignos, estará o aumento da produtividade só alcançável com investimento que melhore a tecnologia incorporada no processo produtivo e introduza inovação. Pegando no velho exemplo de Ricardo, numa economia produtora de trigo, seria necessário reservar uma parte da produção para a sementeira seguinte (investimento de reposição), mas também selecionar o trigo que mais se adapta às condições de solo e climáticas (inovação), acrescentaria, para tornar a parábola mais contemporânea. Mas temos de reconhecer que nem todo o investimento é bom , por exemplo os investimentos estrangeiros que não transferem tecnologia, os investimentos que só procuram a exploração desenfreada do trabalho, os investimentos que só existem em setores que além do lucro normal ten

O debate ideológico e a questão da dívida

Está em curso um debate na sociedade portuguesa sobre aproveitar a conjuntura favorável - crescimento europeu e juros baixos - para termos mais crescimento ou menos dívida . Este é um debate falso, porque com o crescimento, se a dívida se mantiver, como o denominador a cresce, a dívida em percentagem do PIB por si só também vai decrescendo. O acento tónico no decréscimo mais acentuado da dívida é uma opção ideológica que visa acima de tudo travar a recuperação de direitos em curso na sociedade portuguesa . Veja-se a questão do salário mínimo ser 580 ou 600, pôr o cronómetro a andar, mas sem recuperar o tempo em que esteve parado, etc. Debatem-se dois modelos de desenvolvimento , um dos salários baixos e trabalho sem o mínimo de direitos e que transformaria Portugal na zona de recreio dos europeus, com base no turismo e em indústrias e serviços de mão de obra intensiva, e outro, que se centraria no desenvolvimento tecnológico , com direitos laborais e níveis salariais mais próximos d

Consequência do fim das taxas de juro baixas (negativas).

O ministro das finanças avisou ontem que o período das taxas de juro baixas estava a chegar ao fim . Explicou também que esta orientação de política monetária estava a esgotar-se com o crescimento real da Europa acima de 2% e com a taxa de inflação a aproximar-se de uma média de 2%. Concordo com esta abordagem e acho relevante a chamada de atenção do ministro das finanças, se de facto se aproveitar ao máximo o período de juros baixos , que para o nosso país, só foi relevante depois da decida do grau de risco da nossa dívida, de uma das agências de rating mais importantes, portanto, à cerca de um mês. Há muito trabalho a fazer para baixar o nível médio de juros pagos pela dívida e aproveitar esta janela de juros baixos, que ainda se vai manter, mas que sabemos está perto do fim. Esta ação é consensual. Menos consensual será a diminuição da dívida pública de forma mais acelerada, pois esta medida implica uma redução mais acelerada do défice, com a consequência de esta ação limitar a ca

A alternativa à atual estratégia económica

O atual modelo económico sabemos tem duas vertentes: * cumprir as exigências da UE em termos de défice, o que implica a redução do défice do Estado; * melhorar as condições de vida das pessoas através de uma recuperação gradual dos rendimentos, o que irá aumentar a procura interna e dinamizar a economia. Qual a alternativa da direita a esta política? A mais importante é a de que a prioridade à reposição de rendimentos tem limitado as funções de soberania do Estado , esta vertente centra-se na questão dos incêndios, mortes associados e impacto no tecido económico. Independentemente de sabermos que a política de cortes começou no governo anterior, importa reconhecer que houve má gestão deste governo da proteção civil, pelo que esta crítica é pertinente. Outra vertente da alternativa de direita é querer uma redução do défice mais rápida , ou seja, em menos tempo. São os arautos desta crítica o Conselho das Finanças Públicas e de forma mais encapotada os partidos PSD  e CDS. Também al

A regulamentação do setor financeiro continua por fazer.

Depois da crise de 2007/08 houve esperança de se voltar a uma regulamentação do setor financeiro mais exigente , próxima do que era entre os anos 50 e 70 do século XX. Mas parece que os defensores da auto-regulação conseguiram travar a regulamentação necessária e mesmo anular a que timidamente se fez, como a regulamentação de Dodd-Frank, esta marginal, pois só incidia nas atividades não vigiadas da banca. Tinha ideia que as regulamentações tinham avançado, ainda de forma tímida, mas ao ler hoje a entrevista de Michael ASH no jornal Público de hoje, percebi que o lóbi da banca conseguiu travar as regulamentações previstas e mesmo anular as poucas feitas . Este autor aponta que esta falta de regulamentação é o resultado de uma teoria / ideologia neoliberal, que se tornou senso comum e da promiscuidade entre banca e governo, havendo uma porta giratória entre funções de topo na banca e na administração. Mesmo os mais populistas, que deveriam defender os mais francos perante o poder económ