Mensagens

A mostrar mensagens de 2017

A teoria (pouco)liberal e o caso das raríssimas

Sabemos que há o Estado intervencionista e o Estado liberal, em que o primeiro intervém na economia e no social e o segundo só se devia dedicar à segurança e aos tribunais. Entre o Estado liberal (mínimo) e o Estado intervencionista (máximo com mercado), existem uma série de meios termos, um desses é o caso português que é um Estado que intervém pelo menos no social, mas deve fazê-lo principalmente através do terceiro setor , dentro da lógica (neoliberal) do que é feito pelo Estado tende a ser ineficiente. Este modelo híbrido resulta de historicamente termos sido já bastante intervencionistas, mas o centrão e direita têm vindo a reduzir o papel do Estado ao papel de financiador do setor social, porque a gestão privada das IPSS é mais eficiente. Esta demanda contra a gestão do Estado acentuou-se com o governo de Passos Coelho. Temos assim o aumento do financiamento Estatal, mas gestão das IPSS . O mesmo foi feito na educação, com os chamados contratos de associação, em que o Estado fin

Será a eleição de Centeno importante?

A Presidência do Eurogrupo passa a ser do ministro das finanças português e a pergunta que se coloca é se será importante para os portugueses? Como elemento de esquerda e que sempre achei que se poderia ir mais longe na recuperação de rendimentos , ainda que, entendendo que se teria de caminhar para superavit orçamentais (mas não superiores a 1,5%) para se ir reduzindo a dívida , acho que Centeno poderá sucumbir a um maior rigor orçamental devido às novas funções, ou seja, acelerar a redução do défice, em vez de esperar pelo efeito do crescimento para ir equilibrando o orçamento e da descida dos juros (com um crescimento de 2,5%, as receitas, mantendo-se o mesmo nível de impostos, sobem cerca de mil milhões de euros, por outro lado, estando os juros em queda, haverá menos serviço da dívida). Portanto há aqui uma discordância de gradualismo, mas não de fundo . Contudo, este lugar poderá ser importante na reconfiguração da zona euro , sabendo nós que as propostas de Macron entram em d

A questão das rendas e o investimento

O investimento é absolutamente necessário para a economia, pois é com ele que se constrói o futuro, ao repor ou aumentar a capacidade de produção, inovar e melhorar a tecnologia. Aliás no centro do modelo da esquerda, baseado em salários condignos, estará o aumento da produtividade só alcançável com investimento que melhore a tecnologia incorporada no processo produtivo e introduza inovação. Pegando no velho exemplo de Ricardo, numa economia produtora de trigo, seria necessário reservar uma parte da produção para a sementeira seguinte (investimento de reposição), mas também selecionar o trigo que mais se adapta às condições de solo e climáticas (inovação), acrescentaria, para tornar a parábola mais contemporânea. Mas temos de reconhecer que nem todo o investimento é bom , por exemplo os investimentos estrangeiros que não transferem tecnologia, os investimentos que só procuram a exploração desenfreada do trabalho, os investimentos que só existem em setores que além do lucro normal ten

O debate ideológico e a questão da dívida

Está em curso um debate na sociedade portuguesa sobre aproveitar a conjuntura favorável - crescimento europeu e juros baixos - para termos mais crescimento ou menos dívida . Este é um debate falso, porque com o crescimento, se a dívida se mantiver, como o denominador a cresce, a dívida em percentagem do PIB por si só também vai decrescendo. O acento tónico no decréscimo mais acentuado da dívida é uma opção ideológica que visa acima de tudo travar a recuperação de direitos em curso na sociedade portuguesa . Veja-se a questão do salário mínimo ser 580 ou 600, pôr o cronómetro a andar, mas sem recuperar o tempo em que esteve parado, etc. Debatem-se dois modelos de desenvolvimento , um dos salários baixos e trabalho sem o mínimo de direitos e que transformaria Portugal na zona de recreio dos europeus, com base no turismo e em indústrias e serviços de mão de obra intensiva, e outro, que se centraria no desenvolvimento tecnológico , com direitos laborais e níveis salariais mais próximos d

Consequência do fim das taxas de juro baixas (negativas).

O ministro das finanças avisou ontem que o período das taxas de juro baixas estava a chegar ao fim . Explicou também que esta orientação de política monetária estava a esgotar-se com o crescimento real da Europa acima de 2% e com a taxa de inflação a aproximar-se de uma média de 2%. Concordo com esta abordagem e acho relevante a chamada de atenção do ministro das finanças, se de facto se aproveitar ao máximo o período de juros baixos , que para o nosso país, só foi relevante depois da decida do grau de risco da nossa dívida, de uma das agências de rating mais importantes, portanto, à cerca de um mês. Há muito trabalho a fazer para baixar o nível médio de juros pagos pela dívida e aproveitar esta janela de juros baixos, que ainda se vai manter, mas que sabemos está perto do fim. Esta ação é consensual. Menos consensual será a diminuição da dívida pública de forma mais acelerada, pois esta medida implica uma redução mais acelerada do défice, com a consequência de esta ação limitar a ca

A alternativa à atual estratégia económica

O atual modelo económico sabemos tem duas vertentes: * cumprir as exigências da UE em termos de défice, o que implica a redução do défice do Estado; * melhorar as condições de vida das pessoas através de uma recuperação gradual dos rendimentos, o que irá aumentar a procura interna e dinamizar a economia. Qual a alternativa da direita a esta política? A mais importante é a de que a prioridade à reposição de rendimentos tem limitado as funções de soberania do Estado , esta vertente centra-se na questão dos incêndios, mortes associados e impacto no tecido económico. Independentemente de sabermos que a política de cortes começou no governo anterior, importa reconhecer que houve má gestão deste governo da proteção civil, pelo que esta crítica é pertinente. Outra vertente da alternativa de direita é querer uma redução do défice mais rápida , ou seja, em menos tempo. São os arautos desta crítica o Conselho das Finanças Públicas e de forma mais encapotada os partidos PSD  e CDS. Também al

A regulamentação do setor financeiro continua por fazer.

Depois da crise de 2007/08 houve esperança de se voltar a uma regulamentação do setor financeiro mais exigente , próxima do que era entre os anos 50 e 70 do século XX. Mas parece que os defensores da auto-regulação conseguiram travar a regulamentação necessária e mesmo anular a que timidamente se fez, como a regulamentação de Dodd-Frank, esta marginal, pois só incidia nas atividades não vigiadas da banca. Tinha ideia que as regulamentações tinham avançado, ainda de forma tímida, mas ao ler hoje a entrevista de Michael ASH no jornal Público de hoje, percebi que o lóbi da banca conseguiu travar as regulamentações previstas e mesmo anular as poucas feitas . Este autor aponta que esta falta de regulamentação é o resultado de uma teoria / ideologia neoliberal, que se tornou senso comum e da promiscuidade entre banca e governo, havendo uma porta giratória entre funções de topo na banca e na administração. Mesmo os mais populistas, que deveriam defender os mais francos perante o poder económ

A problemática dos incêndios

Não sou especialista na matéria, pelo que não vou entrar em muitos detalhes técnicos, mas mesmo assim vou dar a minha opinião de leigo. O problema dos incêndios estão estritamente ligados ao abandono do mundo rural, principalmente no que se refere à pouca rendibilidade da economia florestal. Assim o essencial é fazer reformas que criem valor na floresta (sem ser à base do eucalipto que parece ter um efeito ambiental perverso), aqui parece-me positivo, ainda que insuficiente, a implementação de centrais de biomassa e o seu uso par produzir eletricidade . Também é importante o ordenamento do território e da floresta com uma multiplicidade de espécies, com primazia para as autóctones, que tornem mais difícil o fogo de propagar-se. Para tudo isto ser possível é necessário criar unidades de gestão florestal que licenciem o uso de solos e espécies a implementar nesses solos. Mas o mundo rural não é só floresta, também é agricultura e pecuária, tudo enquadrado num ordenamento territorial qu

O OGE 2018.

O OGE para 2018 continua a ser um orçamento de contenção , devendo o défice começar a diminuir, mas agora com folgas derivadas do crescimento económico , que permitem aumentar a despesa sem aumentar o défice ou compensar com receitas adicionais. A folga deverá atingir os 1.000 milhões de euros só com crescimento económico. Assim, vai continuar a política de recuperação de rendimentos , redução do IRS, para os escalões mais baixos, no valor de 400.000 milhões de euros, a progressão das carreiras na função pública, cerca de 300.000 milhões de euros (fala-se em 30% em 2018 e os restantes em 2019) e a subida das pensões, ainda por definir, mas o aumento automático devido ao crescimento económico superior a 2% deverá andar pelos 200.000 milhões de euros. É de salientar que serão os rendimentos mais baixos os mais beneficiados, a que devemos acrescentar a subida do salário mínimo. Além disso, é preciso aumentar as receitas dentro de uma política de maior justiça social e nesta perspetiva

Rescaldo das eleições autárquicas

Já passaram 48 horas depois de conhecidos os resultados eleitorais, o que me permitiu refletir e chegar às seguintes conclusões: 1. O PS foi o grande vencedor das eleições , tirando partido da estratégia governativa seguida. A mensagem de que o PCP e o BE é que puxaram o PS para as medidas de recuperação do rendimento não passaram . O eleitorado vê no PS o grande obreiro da governação e olha os partidos mais à esquerda como apêndices necessários, mas não decisivos deste governo. 2. O PSD foi um dos perdedores da noite , porque não tem tido linha estratégica, porque a sua mensagem de que depois de nós o diabo foi desmentida pela realidade. Esta situação nacional teve reflexos negativos em alguns concelhos onde perderam câmaras, sem que o trabalho autárquico o fizesse prever. 3. O CDS tirou dividendos de ter descolado da estratégia do PSD , procurando ter propostas alternativas e construtivas. A democracia cristã aparece mais à esquerda que o liberalismo do PSD, que meteu a social dem

A folga da saída do lixo

Uma das agências de notação financeira, retirou Portugal do lixo , p rovocando uma descida dos juros pagos pela dívida pública. Esta notícia vai permitir que para o ano de 2018 haja mais folga orçamental ao serem reduzidos os juros a pagar, na sequência da substituição de dívida mais cara por dívida mais barata. Também pode ser expectável um maior crescimento do investimento no setor produtivo, devido a um maior clima de confiança no país. Esta situação é o resultado de um crescimento económico significativo, próximo dos 3%, e da evolução descendente do défice orçamental. Parece, pois, que entrámos num circulo virtuoso , com a economia a crescer, a serem superados paulatinamente, constrangimentos, como o défice das contas do Estado, que por sua vez melhoram o rácio de endividamento, que até ao final do ano deve descer alguns pontos percentuais. Mas, estas boas novas externas, a que a retoma europeia também ajuda, não devem abrandar a política de retoma de rendimentos que acelera o

Dois assuntos: a EDP e as eleições britânicas

Sobre a constituição de arguidos relacionados com as rendas da EDP, parece que o caso gira em torno de informação falsa dada pela REN e EDP para inflacionar as contrapartidas com base em informações incorretas , sendo portanto um caso de polícia e não político. Ora o Sr. Mexia, na conferência de imprensa refugiou-se no aspeto político. Mas também há o caso político das rendas excessivas, que vai e vem como assunto. Neste caso, reconhecendo eu que pouco sei deste setor, parece-me que o problema gira em torno das rendibilidades garantidas, que parecem excessivas . Por exemplo uma rentabilidade do investimento de 15%, significa um período de pagamento de 7 anos, o que me parece excessivo, face há conjutura atual. Porque não se indexa esta rendas à euribor, como se passa com a maioria dos contratos financeiros? O outro comentário do dia obrigatório diz respeito às eleições inglesas com os conservadores a perderem a maioria absoluta. A convocação de eleições visava fortalecer a posição n

Regras cegas no euro.

Nas conferências do Estoril Stiglitz veio dizer que o euro estabelece regras cegas como a norma do défice não exceder os 3% do PIB . Disse mais, estas regras foram criadas por um outro motivo, se calhar teológico relacionado  com a fé, que não o económico. De facto esta regra faz mais parte de um dogma do que da ciência económica. Na ciência económica reconhece-se até o efeito benéfico de um défice, desde que a conjuntura assim o exija, como no caso das situações de crise e mais ainda em ocasiões de crises acentuadas. Também se reconhece que os défices aumentam a dívida pública e que se esta atingir um certo patamar podemos ter uma crise de financiamento externo. Assim a teoria económica relativiza as situações em função do contexto, o que não é compatível com regras rígidas . Concluindo faz sentido fazer uma análise casuística em vez de haver normas rígidas e é este o caminho que se deve percorrer na reforma da arquitetura do Euro. Dito isto, importa reconhecer que os défices de ce

As folgas depois da saída do défice excessivo

Portugal por proposta da Comissão está em vias de sair do défice excessivo , só faltando final a posição do conselho de ministros das finanças. Esta é uma boa notícia porque abre-se a possibilidade de haver folga orçamental para investimentos estratégicos , isto é, pode-se propor à comissão que um certo investimento seja considerado nessa folga orçamental. Esta possibilidade pode aplicar-se para 2018, para isso é preciso eleger-se um investimento, que na minha opinião não significa voltar-se aos velhos projetos megalómanos tipo TGV e novas pontes sobre o Tejo. Acho mesmo essencial a escolha desse projeto obedecer à aprovação de 2/3 da Assembleia da República, para que não regresse a febre das obras públicas. Na minha opinião deveria ser um projeto numa área de inovação tecnológica e centrado no desenvolvimento com impacto sobre a vida das pessoas. Como sabemos o país apresenta já um crescimento aceitável para 2017, falando-se já de 3% para o 2º trimestre. Estamos, pois, em condições

Boas notícias no domínio da economia

No primeiro trimestre de 2017 a economia portuguesa cresceu 2.5% , sustentada pelas exportações e pelo investimento, portanto arrastada pelo que se considera ser o ideal, pelo seu efeito a mais longo prazo: aumentar a capacidade produtiva e conquistar mercados externos. Este crescimento traduz um clima de retorno da confiança , para o que no ano transato muito contribuiu a procura interna impulsionada pela subida do salário mínimo e outras reposições de rendimento. Este ano como já aqui previ (neste blog) a entrada em velocidade de cruzeiro dos fundos 2020, o investimento descolaria , como está a acontecer. A subida das e xportações traduzem o bom momento dos mercados externos ( a Europa também acelerou o seu crescimento) e confiança dos empresários , ou seja, o circulo virtuoso parece estar em marcha. O mérito desta situação é principalmente deste governo com a sua alteração de estratégica económica, sem contudo deixar de pugnar pelo equilíbrio das contas públicas, que são important

Que problemas afetam a Europa?

A Europa apresenta problemas, o principal dos quais é não ser sentida pelas populações como parte da resolução dos seus anseio s, o que passaria por uma maior proximidade com os cidadãos em termos eleitorais, portanto, uma reforma política, por exemplo a eleição do presidente da comissão pelos cidadãos e transformar o controlo da comissão pelo parlamento e  pelo conselho, ou seja, um sistema bicamaralista, transformado o conselho numa espécie de senado, como nos EUA em que existe um senado representante dos estados e uma câmara representante das populações. Estas reformas permitiriam diluir os poderes atuais da Alemanha. Outro problema da Europa são os desequilíbrios nas relações económicas entre países , por exemplo os alemães com os seus excedentes estarem a sugar rendimentos a alguns outros países, na Europa e no Mundo. Ora este problema ganhou atualidade porque foi colocado na agenda pelo Trump, provando que os EUA o sentem, daí o amuo entre Trump e Merkel. Na Europa não temos tid

Será que a execução orçamental do 1º trimestre trouxe boas notícias?

Lembrando que o governo pretende a quadratura do círculo, estar bem com Bruxelas/mercados e repor rendimentos e direitos dos trabalhadores, as notícias da execução orçamental com um défice menor do que no ano passado no primeiro trimestre são boas para Bruxelas e para os mercados, mas podem ser preocupantes para os trabalhadores. Passo a explicar, com a aceleração do crescimento há mais impostos, que superaram o aumento das despesas , mesmo com as de capital a crescerem cerca de 16%, daí haver menos défice. Como já vimos este governo prefere fazer projeções macroeconómicas conservadoras, isto é, aposta em cenários pouco otimistas à espera que a realidade seja melhor que as previsões. Isto é bom do ponto de vista das expetativas favoráveis ao governo e cria confiança nos mercados. Mas do ponto de vista das classes martirizadas pelo programa da tróica há menos espaço para acelerar a reposição de rendimentos, porque se partirmos de um défice de 1,5% em 2017, para 2018 Bruxelas aceitará u

Lições das eleições francesas

Houve ontem mais umas primárias nas eleições francesas para a presidência da república e hoje é dia de se analisar os resultados. O primeiro grande resultado é a erosão dos partidos do poder , socialistas e republicanos, que não estarão presentes na segunda volta, sendo o caso dos socialistas o que deverá merecer maior reflexão por não ter chegado aos 10%. Este resultado já aconteceu noutros países como na Grécia e também na Holanda. Na minha opinião esta erosão dos eleitores socialistas acontece quando o programa dos socialistas não se distingue das políticas de centro direita, centradas em regras rígidas de austeridade. Há também uma votação de cerca de 40%, em Le Pen e Melanchón, que são votos contra a união europeia da atualidade, longe das necessidades e sentimentos dos cidadãos, ainda que à direita com ênfase na segurança e à esquerda na desigualdade de rendimentos ou na disparidade de sacrifícios exigidos, com uns a beneficiarem do mal dos outros. Há claramente uma erosão dos

Nesta semana a notícia boa é a aceleração do crescimento económico

O BdP veio prever para 2017 uma taxa de crescimento do PIB da ordem dos 1,8% , confirmando assim a aceleração da economia portuguesa mesmo continuando o défice a diminuir. Mas as boas notícias não se ficam só pelo crescimento, mas também que este se consegue à custa das exportações e da retoma do investimento , fruto do clima económico favorável e da velocidade cruzeiro dos fundos europeus do programa 2020 e também do boom no turismo. O consumo continua a ter o seu papel neste crescimento, mas como não há retoma tão acentuada dos rendimentos como houve no ano anterior, este papel empalideceu um pouco. Já não são notícias boas a venda do NB por tuta e meia, nem o financiamento da CGD a taxas de juro de cerca de 10%, mais uma vez com soluções impostas pela UE sem racionalidade económica, como a do Estado manter 25% do NB sem participar na administração. Isto não é capitalismo é preconceito contra os capitais públicos, em casos de emergência, como bancos resolvidos, que nem britânicos n

O caso do dinheiro gasto em copos e mulheres

O presidente do eurogrupo saiu-se com esta de que havia países que gastaram dinheiro com álcool e mulheres e depois pedem ajuda para pagar as dívidas. S em referência expressa aos países do sul, mas como são estes os países que apresentaram problemas de endividamento esta seria uma referência muito pouco subtil, ainda que não expressa. Esta declaração é importante porque numa altura em que se comemoram os 60 anos do tratado de Roma que criou a CEE, era importante a Europa estar unida contra as ameaças de Trump e Moscovo , além de coesa para enfrentar o Brexit, aparece este senhor a relembrar a pseudo divisão entre norte e sul , em que o norte é rigoroso financeiramente falando, não tendo défices excessivos e com a dívida controlada, enquanto os do sul, esbanjam dinheiro e têm dívidas enormes. Não podemos descontextualizar esta situação e não levar em conta que em 1987 com o Ato Único se reconheceu o atraso destas economias ao criar-se o fundo de coesão, que visava acelerar o processo

As eleições holandesas e a Europa

Decorreu ontem um ato eleitoral na Holanda em que se receava mais uma vitória do populismo. Hoje confirma-se que o populismo estando a crescer à boleia de uma política anti-emigração, não se tornou a principal força política , como aconteceu nos EUA com Trump. Por outro lado, na esquerda, se os trabalhistas desceram acentuadamente, os verdes tiveram uma subida acentuada, ainda que não compensando a quebra dos primeiros. De qualquer maneira o governo vai exigir uma coligação de vários partidos, o que significa negociações prolongadas. Se os apoiantes da Europa parecem continuar maioritários e os riscos de desagregação com mais referendos parece não se pôr , continuamos sem responder à questão do que significarão estas eleições para o futuro da Europa. A continuação de uma política de austeridade cega ou o avanço numa maior solidariedade, por exemplo com os títulos europeus (european bonds)? Uma política anti-emigração ou abertura ao multi-culturalismo? Várias perguntas ficam por respon

A reflexão da comissão sobre perspetivas futuras para a UE

A comissão emitiu um documento/reflexão sobre o futuro da UE. Neste documento são traçados cinco cenários sobre esse futuro. Depois deste documento ter vindo a público os 4 grandes, Alemanha, França, Itália e Espanha reuniram-se e enfatizaram o terceiro cenário de haver uma Europa a várias velocidades , significando isto que os diversos países se encontrariam em fases diferentes de integração. Esta linha de rumo veio condicionar o debate a este cenário, porque o que os grandes quiserem é o que se vai realizar com grande probabilidade. Depois desta reunião pode-se dizer que os outros cenários foram descartados. O que significa Europa a várias velocidades? Que haverá vários dossiers de integração possível e os países aderirão aos que acharem convenientes ou que preencham os pré-requisitos . Os possíveis dossiers serão a segurança, a mutualização da dívida, o sistema de fiscalidade europeia, as bases mínimas de segurança social comuns, para só referir os mais importantes. Por exemplo Po

A questão da progressão dos funcionários públicos

A geringonça tem para este ano o propósito de atacar o problema dos precários na função pública, o que me parece uma prioridade acertada que é dignificar os funcionários públicos que não têm segurança de emprego, pois não se podem construir serviços públicos de qualidade com base na precariedade, ou seja, no caminho para se terem bons serviços públicos (o fim) temos de ter recursos humanos empenhados (o meio). Depois de se trabalhar este tema surge naturalmente a necessidade de progressão na carreira dos funcionários já no quadro . Ora apareceu nos jornais que se está a estudar uma forma de progressão que não seja automática, quer motivos financeiros, quer por motivos de mérito. O problema é que os funcionários públicos estão congelados há bastante tempo (cerca de 10 anos) e têm vindo a ser avaliados, o que lhes permitiu ter esperança que logo que haja oportunidade financeira, as progressões apareçam . Realço que como tem havido avaliações as progressões esperadas estarão baseadas no

Quando a política se sobrepõe à economia: o caso de Centeno

Estas últimas semanas temos assistido a um ataque feroz contra o ministro Centeno, por causa de problemas éticos , relacionados com o facto se mentiu ou não em sede de comissão da AR. Como já defendi o governo andou mal no processo da Caixa, no que se refere à exceção aberta para os salários e à tentativa de eliminar a entrega de declaração de rendimentos ao TC. Foi uma trapalhada evitável, uma vez que não se justifica uma exceção para a Caixa, na entrega de declarações e também em termos de rendimentos (não nos esqueçamos que ainda estamos a fazer sacrifícios, com salários congelados na administração pública). Dito isto acho que este aspeto político está a ser usado pela oposição para abafar os sucessos económicos do governo : a subida do crescimento económico no último trimestre que levou a rever em alta o resultado de 2016, superando todas as previsões e a baixa do défice para cerca de 2% afastando os procedimentos por défice excessivo . Quem não tem argumentos económicos para co

Os alemães perderam a primeira batalha no BCE

O BCE decidiu continuar até setembro com a sua política de «quantitative easing», ou seja continuar a comprar títulos dos diversos países e a injetar dinheiro na economia europeia.  Esta é uma vitória da união contra o domínio alemão como expliquei no último post, pois, estes queriam começar já uma política de combate à inflação que se aproxima dos 2%, o valor mítico dos monetaristas para começarem políticas monetárias mais restritivas, com a subida dos juros e menos injeção de moeda na economia. Os interesses dos países do sul foram acautelados e têm mais tempo para resolverem os seus problemas, antes dos juros começarem a subir, nomeadamente os relacionados com as suas dívidas públicas. Esperemos que entretanto haja evolução, com uma política europeia nesta frente, com a Alemanha a ser parte da solução e não obstáculo. Ainda sobre a construção de uma zona de moeda única, um artigo do Público, lembrava ontem a experiência dos EUA, nomeadamente que o dólar como moeda única passou po

Os dilemas da política monetária europeia

Numa altura em que a inflação alemã se aproxima dos 2%, referência para se começar a subida das taxas de juro, teremos oportunidade de verificar se o BCE segue a filosofia alemã ou é de facto independente dos alemães e leva em conta as necessidades de outros países , nomeadamente os do sul, por exemplo da Itália, país do Presidente do BCE. Explicando melhor, os dilemas da zona euro e da sua política monetária estão no facto de a Alemanha começar a precisar de uma subida dos juros e do fim do «quatitative easing», ou seja da política de compra de obrigações que tem levado os juros para níveis negativos, enquanto há outros países que ainda necessitam da continuação da política monetária de juros baixos, quer por causa da sua inflação ainda ser baixa (inferior aos 2%) e quer porque continuam a precisar de juros baixos para suportar os juros das dívidas. Este dilema é também uma luta pelo poder, se os juros subirem, os alemães saíram vencedores, se os juros continuarem baixos e a polític

A propósito da redução da TSU como contrapartida do salário mínimo.

Está um debate político acesso sobre a redução da TSU como contrapartida da subida do salário mínimo. Analisemos a situação. Em primeiro lugar concordo com Assunção Cristas que o governo não devia ter assinado um acordo que não estava em condições de cumprir , porque não assegurou na AR uma maioria de apoio a esta medida. Contou com uma coerência do PSD e deu a medida como aprovável, o que parece que não vai acontecer. O PSD fazendo política optou por valorizar o contexto, fazendo oposição e dificultando a vida ao governo, em vez de se manter firme nos seus princípios, posição legítima, que contudo pode ter custos eleitorais e abriu espaço a que a linha social-democrata se fizesse ouvir na contestação ao líder Passos Coelho. Será uma situação em que os fins, atrapalhar e desgastar a governação, se sobrepõe aos meios, ao alterar a sua posição de princípio. Os partidos mais à esquerda, PCP e BE, coerentes com a sua posição de princípio acham que haver descida da TSU para compensar uma

Começa a formar-se um consenso para nacionalizar o NB

Começa a formar-se um consenso na sociedade portuguesa a favor da nacionalização (pelo menos provisória) do Novo Banco (NB) com elementos de todos os quadrantes a defendê-lo, quer como solução menos má, quer do ponto de vista financeiro, mas acima de tudo para evitar a venda ao desbarato de um ativo que já nos custou 4,9 mil milhões de euros. Desde a Manuela Ferreira Leite e Rui Rio no PSD, até Carlos César no PS, além do BE e PCP, aparecem a defender pelo menos a nacionalização transitória do banco, como aconteceu com o Lloyd´s no Reino Unido. A tese de que não haveria custos adicionais após a resolução começa a cair por terra, se não quisermos «oferecer» um banco a fundos privados que normalmente desmantelam as empresas que compram para as vender realizando lucros. Com os prejuízos do BPN em mente e com a sua quase oferta ao BIC e com o que se passou com o Banif, com o Santader a fazer uma compra leonina, com perdas para o Estado, cada vez mais os portugueses devem estar preparado

A Caixa Geral de Depósitos: ainda tudo muito nebloso.

A telenovela da Caixa Geral de Depósitos continua, mas agora começo a questionar-me se este ênfase na Caixa será meramente luta político-partidária , tentando a oposição desestabilizar o governo e seus apoiantes, procurando nesta área criar fricções na coligação? Para responder a esta pergunta é interessante considerar as notícias que vieram a público sobre a necessidade de haver tantas imparidades , tanto mais, que a Caixa estaria na média das suas congéneres europeias até 2016 e estas não foram a correr aumentar as suas imparidades. É verdade também que o anterior CEO da Caixa também não viu necessidade de aumentar as imparidades, além de que os auditores que justificaram as duas posições são os mesmos. Tudo muito estranho! É relevante que Domingues tenha dito no Parlamento que deixou um dossier onde analisa os créditos acima de um dado montante e onde se justifica a necessidade de rever as imparidades. Com a informação que temos detetamos uma tensão , mas n ão se compreende o porq