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A mostrar mensagens de 2022

A questão dos depósitos a prazo.

 A principal fonte de receita das instituições bancárias é, no sentido de costuma ser, a diferença entre taxas de juro ativas, dos empréstimos concedidos, e das taxas de juro passivas, dos depósitos. Durante o período de taxas de juro negativas, esta diferença estreitou-se muito, pelo que os bancos para serem rentáveis começaram a criar as comissões para tudo.  Agora com as taxas de juro a crescer, assistimos à atualização das taxas de juro ativas no período de avaliação da Euribor respetiva, mas as taxas de juro passivas não estão a ser atualizadas em consonância, ou não há atualização ou  a atualização é muito mitigada.  Mais uma vez assistimos à lei do mais forte, atualiza-se as fontes de receitas, mas retarda-se e mitiga-se os juros a pagar.   Porque isto acontece? Em primeiro lugar temos de referir que temos um regulador que favorece a indústria e não os consumidores (neste caso depositantes), o que não se compreende tendo em conta que a remuneração dos depósitos estimula a poupan

A ultrapassagem de Portugal por outros países da UE.

 Há indicadores conjunturais e há indicadores estruturais e sem dúvida que a observação de Portugal no ranking da UE no que diz respeito ao PIB per capita será um indicador estrutural, que mede a capacidade do país em crescer e melhorar o nível de vida da sua população. Quando somos ultrapassados pela Hungria,  Polónia, Estónia e Lituânia significa que temos andado pior que estes países no desempenho global da economia . CF: https://eco.sapo.pt/2022/03/23/pib-per-capita-em-portugal-e-7o-mais-baixo-da-ue/.Neste momento somos ameaçados pela Roménia, que nos poderá ultrapassar em 1924. O governo não gosta desta comparação, mas ela é mais válida do que a comparação entre o crescimento nos governos do PS e o crescimentos dos governos do PSD, que costuma usar. Neste caso poderemos estar a comparar conjunturas económicas internacionais completamente diferenciadas a nível global, enquanto que quando comparamos o desempenho dos países, a conjuntura económica internacional subjacente é praticame

A independência da política monetária: parte II.

 No debate entre os Costas ressalta que o Costa Carlos alega que a idoneidade não se discute e não é passível de ser traficada. Estou de acordo com esta posição, mas não compreendo como a Isabel dos Santos esteve tanto tempo como administradora de bancos, se não tinha idoneidade! Por outro lado, reconheço que a tradição da relação dos nossos governantes com os reguladores não é transparente, quer porque alguns são antigos ministros, quer porque houve decisões que mostram uma vassalagem aos governos. Logo, estamos perante uma cultura política de subserviência dos reguladores aos governos, o que não me parece saudável. Outro lado interessante desta história tem a ver com o atual governador que quis mudar o sistema de supervisão e de nomeação do governador, quando era ministro, mas quando chega a governador, o PS mete esta proposta na gaveta, o que demonstra que a alteração proposta não era por princípio mas resposta à conjuntura , o que indiretamente mostra que o Carlos Costa era incómod

A independência da política monetária.

 Na arquitetura institucional criou-se uma entidade independente para gerir a política monetária, o Banco Central. A razão de ser desta independência resulta do reconhecimento da importância em combater a inflação, que a partir de certos níveis pode ser um flagelo social, porque perante a inflação há quem consiga repercutir os custos nos preços, portanto, com capacidade de adaptação e de ganho e quem, os que usufruem de rendimentos fixos, saem prejudicados com a mesma, com perda de rendimentos reais.  Os períodos inflacionistas são períodos em que o equilíbrio social até então vigente é alterado, com alteração da repartição do rendimento a favor de quem tem rendimentos variáveis à custa dos usufrutuários dos rendimentos fixos. É esta lembrança dos alemães da sua história no início do século XX que os fazem ferozes defensores da necessidade de combater a inflação para níveis superiores a 2%. A independência da política monetária é assim necessária para garantir que a inflação é combatid

O debate do OGE 2023

O nosso Costa está cada vez mais demagogo, apoiado na sua maioria absoluta, como se pode observar pelas respostas ontem dadas: * a comparação constante com o governo de Passos Coelho, mesmo que já tenham decorrido 8 anos, esquecendo-se de que no tempo de Passos Coelho quando se cortou foi de forma transparente e não camuflado pelo imposto da inflação, logo sem transparência; * truques estatísticos, como no caso do crescimento económico em que compara com a média da UE e não com os países nossos concorrentes diretos, que nos vão ultrapassando no ranking das economias da UE;  * as regras até agora defendidas são alteradas conforme a conveniência: caso das atualizações das pensões e a regra de compensação da inflação do ano anterior; * recusa as comparações que não lhe interessam, como quando o BE comparou os montantes perdidos a partir de 2024 da política de atualização de pensões com as borlas fiscais; * recusa em mexer no sistema fiscal, como no caso de passar a IVA zero o cabaz de ben

A reversão de políticas no Reino Unido

 Foi objeto de post anterior a bazuca do Reino Unido para haver uma política expansionista, quer com corte de impostos quer com aumento de despesa. Como desta política iria resultar num endividamento bastante acrescido, os mercados reagiram provocando uma desvalorização da libra, o que levou a uma compra de libras pelo banco de Inglaterra como contramedida. Ora, esta notícia é importante para realçar que até grandes países são suscetíveis de serem influenciados pelos mercados, levando à demissão do chanceler do tesouro e à reversão de muitas das medidas previstas. Lembro-me do ar irónico do líder da oposição, trabalhista, a enumerar a medidas que se foram (gone), com os opositores a fazerem coro com o «gone». Ligando com a política portuguesa, temos em Portugal uma política restritiva apesar das medidas de apoio às famílias e às empresas, que atingiram os 8 mil milhões de euros, realçou ontem o PM na AR. Mas esqueceu-se de dizer o que foi retirado à economia devido ao imposto escondido

OG 2023

Já se começam a conhecer as medidas prevista no OGE para 2023. * Há aumento nominal dos salários que, acompanha a inflação, para os salários mais baixos. Mas não há ganhos do poder de compra. Bem como do IAS. * Há perda de poder de compra, com os salários nominais a subir menos do que a inflação para os trabalhadores que recebem acima de 1000€. * Há uma subida da atualização dos escalões do IRS abaixo da inflação o que significa uma subida real deste imposto, exceto no segundo escalão que desce a taxa marginal de 23 para 21%, a que se junta a subida dos impostos indiretos por via do efeito da inflação. O governo não altera substancialmente a estrutura fiscal, tirando a descida do escalão da luz que pagava 13% e agora paga 6%, quando se justificava que alguns bens essenciais pagassem menos impostos. * Há também uma medida para via subsídios se controlar a despesa energética, no valor de 3 mil milhões de euros. Esta medida pode ser discutida se teria mais impacto se atuasse via redução d

O caso britânico: exemplo de políticas orçamentais que anulam a política monetária

 Nos últimos posts temos vindo a debater o impacto da política monetária, com os seus efeitos contracionistas devido à subida das taxas de juro, e como articular com a política orçamental e fiscal, quando se produz um superavit, como em Portugal, o que reforça o efeito contracionista da subida das taxas de juro.  Trazemos agora o caso britânico, que em conjunto com uma subida dos juros, tem uma política orçamental expansionista que mais do que contrabalançou o efeito da política monetária. Estamos perante um pacote de cerca de 80 mil milhões de euros, com apoio às famílias e empresas, com ajuda na fatura energética, baixa de impostos, com um vigoroso choque fiscal.  Ora no caso português defendíamos que podia haver défice orçamental, mas dentro dos 3%, na Inglaterra temos um défice muito mais acentuado, que levou a que os mercados financeiros deixassem de confiar na libra (esta diferença de ter moeda própria concede um grau maior de liberdade com a manipulação da política cambial), o q

Previsões 2023 - parte 2

 Depois do último texto, a entidade de acompanhamento das contas públicas da AR apresentou uma previsão de crescimento de pouco mais de 1%, pelo que se perspetiva uma desaceleração acentuada do crescimento económico, de cerca de 5% entre 2022 e 2023. A explicação dada no texto anterior centrava-se na política monetária, mas agora temos dados sobre a política orçamental que apresenta um superavit de 2,3 mil milhões, que nos indica que, além da política monetária, esta tem sido também restritiva. Um superavit acentua, em vez de contrabalançar a política monetária restritiva conduzida pelo BCE, porque retira dinheiro da economia através de impostos e não devolve através do lado da despesa pública. Em conjunto com a inflação (que quando os rendimentos não a acompanham, como é o caso) temos um efeito na repartição de rendimentos, com a queda dos salários correspondente a cerca de 1 salário mensal (8%*14=112%). Assim, a contração do consumo também se faz via redução do poder de compra, neste

Previsões económicas 2023

A invasão da Ucránia, ao provocar uma subida dos preços das matérias primas, principalmente as energéticas, levaram os bancos centrais a subir os juros, como forma de combater a inflação. Portanto, a política monetária está a ser restritiva como forma de combater a inflação. A subida dos juros encarece o preço do dinheiro, logo os empréstimos ficam mais caros, o que é um travão ao consumo, quer pela via do encarecimento do crédito ao consumo, quer por via do encarecimento dos bens adquiridos. Daqui resulta uma diminuição da procura global que vai ajudar a reduzir a inflação. O investimento também tende a diminuir, pois, com o  aumento dos juros certos projetos são adiados ou deixam de ser rentáveis, ou porque o custo é maior, ou porque se prevê uma redução da procura que faz com que certos investimentos de aumento da capacidade deixem de ser justificáveis. A política monetária é restritiva e a política orçamental e fiscal? A política orçamental e fiscal pode contrabalançar em parte a p

Explicando melhor a questão dos pensionistas.

A proposta do governo relativa aos pensionistas foi acusada de fraude, ilusionismo, corte nas pensões após 2024. O governo aparece a dizer que nada se pode dizer sobre 2024, que é a maior subida de pensões da última década, que é necessário garantir a sustentabilidade da Segurança Social, ou seja, iniciou-se um plano de marketing para salvar a medida.  Mas explicando melhor, o governo está obrigado por lei da Assembleia da República a proceder a um aumento das pensões que leve em conta o crescimento económico e a inflação do ano anterior. A inflação de 2022 está nos 9% e o crescimento é excepcional entre os 6,5 e 7%. Assim as pensões deveriam subir cerca de 8%. A medida do governo é pagar este aumento em duas parcelas, uma por antecipação em outubro de 2022 e outra, corresponde a um aumento das pensões mensal em 2023 . Expliquemos, para uma pensão de 1000€, em vez de haver um aumento mensal para 1080 (8%), o pensionista receberá só 1045 (4,5%) em 2023 e terá uma antecipação de meia pen

O apoio às famílias setembro de 2022

 Saiu ontem o anunciado pacote de apoio às famílias: Foram aprovados os seguintes diplomas em Conselho de Ministros: Decreto-lei que estabelece: A atribuição de um pagamento extraordinário no valor de 125 euros a cada cidadão não pensionista com rendimento até 2.700 euros brutos mensais; A atribuição a todas as famílias, independentemente do rendimento, de um pagamento extraordinário de 50 euros por cada descendente até aos 24 anos que tenham a seu cargo; O pagamento aos pensionistas de 14 meses e meio de pensões, em vez dos habituais 14 meses; Prolongamento da vigência até ao final do ano da suspensão do aumento da taxa de carbono, da devolução aos cidadãos da receita adicional de IVA, e da redução do ISP. Proposta de lei, a submeter à Assembleia da República, que estabelece as seguintes medidas: Limitação a 2% da atualização máxima do valor das rendas das habitações e das rendas comerciais, no ano de 2023; Criação de um apoio extraordinário ao arrendamento, através da atribuição de b

A política económica no outono de 2022.

Não escrevo neste blog faz 3 anos. Interrompi para me dedicar mais às questões de educação, no contraofacilitismo.sapo.pt. Agora a um ano de me reformar e pensado já em como ocupar o tempo vou regressar e voltar a comentar a atualidade económica. Os comentários não serão longos. A atualidade económica é caraterizada por um governo de maioria absoluta do PS. A guerra Ucrânia versus Rússia, na sequência da invasão deste último país (tenho a liberdade de o dizer), criou um aumento de preços dos combustíveis e de certos produtos alimentares, nomeadamente os cereais. Assim, a conjuntura é caracterizada por um aumento generalizado dos preços, o que levou a inflação para 9%, perto dos dois dígitos. Este aumento da inflação está a ser aproveitado pelo governo para aumentar as receitas fiscais resultante do aumento de preços - excepção do imposto sobre produtos petrolíferos -, sem que do lado da despesa haja aumento de salários, mas havendo um reforço dos rendimentos de 60€ por 3 meses, para os