Sessão fictícia da concertação social.

Estamos no ano de 20?? e reúne a concertação social para discutir a política de rendimentos para o ano seguinte, tendo havido uma inflação de 4% e um aumento de produtividade de 2%.
Os sindicatos propõem: aumentos salariais de 5%, 4 para compensar a inflação e 1% para dividir os ganhos de produtividade. O salário mínimo esse deve subir os 6% para incentivar a criação de postos de trabalho mais exigentes do ponto de vista tecnológico,  e faz-se este aumento sem penalizar demasiado o setor de mão de obra intensiva, uma vez que o aumento está ao nível dos ganhos de produtividade médios da economia mais a inflação existente. Esta proposta visa reforçar a percentagem dos rendimentos do trabalho no rendimento criado, sendo pois uma medida que deve ser encarada do ponto de vista redistribuitivo.
Os patrões questionam o uso da inflação homóloga e contrapropõem o uso da inflação média, mais baixa 0.5 pontos e reivindicam 1,5% dos acréscimos de produtividade. Portanto a sua proposta é de 4% de aumento, ainda que o representante da CIP se oponha, uma vez que os setores do calçado e têxteis estão a sofrer uma forte uma forte concorrência dos países do leste da Europa, da China e da Índia.O salário mínimo deve subir o mesmo dos outros salários para não agravar a perda de emprego nos setores concorrenciais no exterior.
O governo argumenta que os salários só devem aumentar 2% para se evitar a espiral inflacionista, que é o objetivo da inflação para o ano seguinte, mais 1% de aumento de produtividade, ou seja 3%. Põe consequentemente o acento tónico no controlo da inflação. Quanto à divisão da produtividade aceita a proposta dos sindicatos, argumentando que já beneficia os patrões com uma proposta de subida dos salários abaixo da inflação registada, uma vez que as empresas têm flexibilidade no ajustamento de preços e podem usar a política de preços para se ajustarem melhor à conjuntura económica. Por outro lado, lembra que a subida excessiva de salários pode originar perda de empregos nos setores expostos à concorrência e de mão de obra intensiva, que são os setores que mais portugueses empregam. Por outro lado, compromete-se a promover uma política de emprego para os jovens e a incentivar o investimento nos setores que criam mais valor para a economia, os setores de média alta tecnologia, através de maior investimento em I&D e a facilitar a ligação dos centros de investigação ao mundo empresarial, quer majorando os subsídios aos centros de investigação, quer dando benefícios fiscais às empresas criadas. Já quanto ao salário mínimo nacional aceita uma subida de 4% para compensar a inflação não havendo perda de poder de compra (nem ganho). Além do mais como a balança comercial tem apresentado défices elevados, uma subida moderada de salários vai evitar o acréscimo de importações e assim evitar o agravamento do défice comercial enquanto as políticas estruturais não alteram a componente tecnológica das nossas exportações.
Nota: obviamente esta concertação social não tem nada a ver com uma conjuntura de austeridade que agora vivemos, uma vez que existe crescimento e se discute como distribuir os ganhos do crescimento alcançado. Também está subjacente a existência de um movimento sindical forte capaz de causar prejuízo às empresas em situação de conflito, daí a proposta dos patrões ser mais favorável aos sindicatos que a do governo.

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