As teses de Passos Coelho

Nas entrevistas que vem dando, sem nunca pôr em causa a austeridade severa do plano de ajustamento português o PM vem concedendo que o plano foi mal calibrado e por isso foi mais severo.
É hoje consensual que era preciso mais tempo para o ajustamento português tanto mais que o ponto de partida eram salários dos mais baixos da europa para se evitar o colapso social, que afinal não aconteceu porque a emigração tem funcionado como valvula de escape.
Mas esta pequena cedência esconde a forte convição ideológica deste governo que viu uma oportunidade no plano de ajustamento de fazer transformações neoliberais que em circunstâncias normais seriam mais difíceis de executar (veja-se o projeto de revisão constitucional de Teixeira Pinto), pois agora tinham a proteção do «tem de ser» da troica, imposta de fora para dentro, permitindo ao governo aparecer hoje como mais brando do que a troica, como se pode exemplificar na questão de ainda baixar mais os salários.
De fato se nos lembrarmos de Gaspar a lógica era ir mais longe do que a troica enquanto agora o discurso mudou, mas somente em pequenos promenores, sem beliscar a orientação do programa. O que explica isso pode ser uma maior capacidade política de Portas e o aproximar de eleições onde é conveniente mudar o discurso para se continuar a aplicar as respetivas convicções minimizando os dsnos eleitorais.
Mas não nos deixemos enganar, o que se pretende é privatizar tudo o que dê lucro, incluindo setores com forte componente social como a água, residuos. Até na educação, ao arrepio dos resultados mais recentes do PISA se promove o mais possível a educação privada e restringem-se as condições de funcionamento da escola pública, para se chegar ao cheque ensino, numa altura em que quem foi pioneiro neste tipo de políticas educativas vê os seus resultados regredirem.
Em conclusão este governo tem uma clara agenda neoliberal que passa pela diminuição do estado social para tornar os trabalhadores mais refens do capital, o que se demonstra se verificarmos quem de fato tem pago a crise e quem tem sido dispensado de o fazer.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Vantagens e desvantagens do FMI

A conflitualidade de objetivos de política económica

A minha experiência com a estomatologia (análise económica).