UM ACORDO DE ESQUERDA EM PORTUGAL

Depois de meses de ausência vou voltar a escrever regularmente neste blog. A ausência deveu-se a alterações da minha vida, nomeadamente o acompanhamento mais próximo da minha filha.
O tema da atualidade é a existência de um acordo de esquerda em Portugal, entre o PS, BE e PCP, que saúdo, quer pelo fim da barreira artificial dos partidos da governação, quer pelo fim da austeridade como forma de se resolver a crise.
A queda dessa barreira ideológica, os partidos do arco da governação, erguida pela direita e por parte do PS é um grande triunfo da democracia e coloca os eleitores do BE e PCP em igualdade com todos os outros. Passámos de uma democracia a 70% para uma democracia a 100%, o que é um enorme passo em direção a uma democracia mais completa.
Outro aspeto que importa assinalar é o fim do mito da austeridade como caminho único para a saída da crise. O programa de governo já conhecido, que mais não é um programa do PS retocado com algumas cedências aos outros partidos, acaba com o dogma da austeridade e propõe o alívio desta para os mais sacrificados, desde os baixos salários, pensões, pequenos comerciantes da restauração, etc. Quem vai que dar um contributo maior são as empresas, sobretudo as grandes, as fortunas com o novo imposto sucessório (há aqui um pouco de Piketty). A dignificação do trabalho também é um modo de exigir um mundo empresarial que aposte no investimento e na exigência organizacional em vez da exploração do trabalho que leve a níveis de vida pouco dignos. 
Esta é uma forma de clivagem entre esquerda e direita, que é ter um mundo empresarial (para a esquerda) mais evoluído, que aposte no investimento, na inovação tecnológica e na formação dos trabalhadores e desta forma tenha produtividade que permita pagar condignamente aos trabalhadores. A direita só quer obter o máximo de lucro sem olhar para a vida que proporciona aos seus trabalhadores. Para isso aumentou a jornada de trabalho, diminuiu os feriados, desvalorizou o trabalho, condicionou a contratação coletiva, etc.
Já agora, pessoalmente a medida que mais me agrada é o fim das 40 horas de trabalho que afetava a qualidade minha vida familiar.
Outra ideia da clivagem entre esquerda e direita, nos nossos dias, é haver mais igualdade, no acesso à saúde, educação e claro o acesso a uma segurança social, previsível e equilibrada. Aqui também a esquerda é diferente da direita, cujo programa era dificultar o acesso aos bens públicos (taxas moderadoras mais altas) e mesmo privatizar, a saúde, a escola e a segurança social.
Volta a haver uma luta ideológica entre a esquerda e direita, mas agora assente nestas novas clivagens.

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