Comentário sobre a evolução da economia portuguesa com as contas do 1º trimestre

As contas portuguesas relativamente ao 1º trimestre mostram um abrandamento do crescimento económico, baixando as expetativas de crescimento de 1,8 para 1,2%. Este abrandamento reflete uma conjuntura externa pouco favorável às exportações, principalmente em países como Angola e Brasil, ainda que na UE tenha havido uma ligeira melhoria. Outro agregado que explica o abrandamento é o investimento que tarda em arrancar. O que aparece de positivo é o consumo, que está a crescer. Concluindo, a procura externa abrandou sendo compensada pela procura interna, principalmente no consumo, mas com um investimento bastante baixo.
O comentário que faço é que há que rapidamente contrabalançar os efeitos negativos de Angola e Brasil, nomeadamente com a exploração da abertura do Irão e outros mercados. Se ainda atingimos um valor superior à unidade no crescimento global devemos ao consumo, com a recuperação de salários, com o salário mínimo e com a reposição de salários na função pública, resultado de uma política deliberada do governo e de matriz keynesiana. Contudo, não deixa de ser preocupante os dados sobre o investimento, pois é este agregado que tem impacto no crescimento a longo prazo.
Porque é que o investimento não arranca? Acho que este lume brando que a comissão vai fazendo sobre o governo português, com as suas declarações de constante pressão para mais austeridade e a hipótese de sanções por não se ter cumprido a meta do défice pode explicar o que se passa no investimento ao criar uma expetativa pouco favorável. Mas também há responsabilidades do governo com a demora da libertação de fundos comunitários. Fundos esses que serão mitigados se houver sanções. Acho que aqui os «espíritos animais» têm sofrido uma influência negativa dos órgãos europeus e o empurrão dos apoios a fundo perdido têm demorado a aparecer, o que talvez explique a demissão de presidentes das CCRs, evitando o governo com as mesmas mais delongas.
Claro que a conjuntura menos favorável ao capital e mais favorável aos trabalhadores, nomeadamente com a recuperação de salários, recusa da precariedade laboral (caso do conflito do porto de Lisboa) não ajudam  um certo tipo de investimento, o investimento que procura a exploração do trabalho, mas acho que para o investimento desejado, isto é investimento em inovação e que precisa de mão de obra qualificada não é muito afetado pelo ambiente político nacional com um governo de esquerda, pois a mão de obra qualificada não pode ser tratada como descartável.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Vantagens e desvantagens do FMI

A conflitualidade de objetivos de política económica

A minha experiência com a estomatologia (análise económica).