De quem é a culpa da crise?

Claro que a conjuntura internacional é um factor explicativo da crise, e cada vez mais o será num mundo globalizado em que todos dependemos de todos.
Mas a dimensão da crise é um problema local, bem como as medidas tomadas pelos governos nacionais para a combater.
O problema é local na medida em que o modelo de desenvolvimento português já mostra à alguns anos indicadores que está esgotado: o modelo baseado em mão de obra barata tem hoje forte concorrência de outros países e os sectores capital intensivo têm vindo a ganhar peso mas ainda não tem um peso significativo, e sabemos que a perda das indústrias de trabalho intensivo vai agravar o desemprego, como aconteceu na Espanha à já alguns anos atrás.
Também faz parte do modelo de desenvolvimento português uma relação estreita entre o Estado, os partidos políticos e certos interesses económicos que têm favorecido interesses que estão ligados a certos sectores importantes mas se calhar não estratégicos em termos de posicionamento futuro da economia do país capaz de ser competitiva. Senão vejamos, o sector da construção tem sido dos mais acarinhados pelo esquema de interligações que geram desconfianças e até investigações de certos casos vindos a público e este sector sendo importante não é sequer integrável nos bens e serviços trasaccionáveis que permitirão uma nova especialização da economia portuguesa. São também prova destes esquemas as derrapagens das obras públicas e mais importante a incapacidade dos políticos em aprovarem leis eficientes contra a corrupção, como o caso das propostas Cravinho o demonstram. Este esquema está a arrastar o país para um fraco crescimento económico, porque os sectores beneficiados não serão os sectores estratégicos em termos de futuro. Aqui o problema está que a alternância de governo centrada no bloco central não resolve este problema, porque PS e PSD têm a mesma clientela ...
A maneira de lidar com a crise é também um problema local porque um país que esteja próximo dos 3% de défice público em % do PIB como o nosso, terá uma menor margem de manobra para utilizar a despesa pública na dinamização da economia, pelo que é urgente que na fase ascendente do ciclo económico se faça um esforço sério para reduzir o défice para próximo do equilíbrio orçamental ou no máximo um défice de 1%. Agora temos menor capacidade do que os espanhóis para tomar medidas anti-crise pelo que esta vai ser mais profunda e arrastar-se mais tempo em Portugal. Além de que, como já escrevi, o esforço feito por este governo ao previlegiar as receitas foi pouco sério, mas talvez eleitoralista.
Soluções: a minha proposta é uma mudança de regime, para um regime presidencial e para um sistema de representantes do povo uninominais, que fiscalize o Presidente, mas que atenue a importância das máquinas partidárias como canais facilitadoras de corrupção ... O caso da candidatura de Manuel Alegre como independente que está excluída pela actual lei eleitoral prova as restrições actuais e o controlo das máquinas partidárias sobre o processo político.

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