Será que a execução orçamental do 1º trimestre trouxe boas notícias?

Lembrando que o governo pretende a quadratura do círculo, estar bem com Bruxelas/mercados e repor rendimentos e direitos dos trabalhadores, as notícias da execução orçamental com um défice menor do que no ano passado no primeiro trimestre são boas para Bruxelas e para os mercados, mas podem ser preocupantes para os trabalhadores.
Passo a explicar, com a aceleração do crescimento há mais impostos, que superaram o aumento das despesas, mesmo com as de capital a crescerem cerca de 16%, daí haver menos défice. Como já vimos este governo prefere fazer projeções macroeconómicas conservadoras, isto é, aposta em cenários pouco otimistas à espera que a realidade seja melhor que as previsões. Isto é bom do ponto de vista das expetativas favoráveis ao governo e cria confiança nos mercados. Mas do ponto de vista das classes martirizadas pelo programa da tróica há menos espaço para acelerar a reposição de rendimentos, porque se partirmos de um défice de 1,5% em 2017, para 2018 Bruxelas aceitará uma redução para 1%, mas se partirmos de 1,2%, a redução poderá ir até aos 0.7% e assim sucessivamente. Ou seja, quanto mais se conseguir do lado do défice, menos espaço ficará, perante Bruxelas e suas pressões, para se conseguir folgas para a reposição de rendimentos e para o apoio ao investimento, havendo serviços públicos a precisar de investimento de substituição, face ao baixo nível deste nos anos da intervenção da tróica, para já não falar da necessidade do investimento de inovação.
Em face deste cenário eu se fosse governo teria na manga projetos de investimento que aplicaria se próximo do final do ano, tivesse de puxar o défice para valores próximos das previsões, para que se continue a poder agradar aos gregos (trabalhadores e classe média) e aos troianos (Bruxelas, mercados, classe alta).

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Vantagens e desvantagens do FMI

A conflitualidade de objetivos de política económica

A minha experiência com a estomatologia (análise económica).