Será a eleição de Centeno importante?

A Presidência do Eurogrupo passa a ser do ministro das finanças português e a pergunta que se coloca é se será importante para os portugueses?
Como elemento de esquerda e que sempre achei que se poderia ir mais longe na recuperação de rendimentos, ainda que, entendendo que se teria de caminhar para superavit orçamentais (mas não superiores a 1,5%) para se ir reduzindo a dívida, acho que Centeno poderá sucumbir a um maior rigor orçamental devido às novas funções, ou seja, acelerar a redução do défice, em vez de esperar pelo efeito do crescimento para ir equilibrando o orçamento e da descida dos juros (com um crescimento de 2,5%, as receitas, mantendo-se o mesmo nível de impostos, sobem cerca de mil milhões de euros, por outro lado, estando os juros em queda, haverá menos serviço da dívida). Portanto há aqui uma discordância de gradualismo, mas não de fundo.
Contudo, este lugar poderá ser importante na reconfiguração da zona euro, sabendo nós que as propostas de Macron entram em divergência com os alemães. Aqui um presidente do Eurogrupo de um pequeno país do sul pode dar mais peso à visão de Macron, que quer completar o mecanismo europeu com medidas de mais solidariedade europeia, como pôr na agenda os Eurobonds, um ministro das finanças europeu com um orçamento significativo, mais mecanismos de apoio às economias mais fracas e penalizadas pelo euro forte. Mas será que a Alemanha vai ceder? Será que um pequeno país poderá ter influência com as funções de coordenação?
Acho que não, será sempre no eixo Paris/Berlim que as decisões serão tomadas, com mais peso de Berlim. Esta tem sido a realidade que não vai ser alterada. Mas reconheço que as matérias consensuais podem ser implementadas em menos tempo devido ao empenho do Presidente do Eurogrupo. Portanto, a sua margem de manobra é limitada.
Concluindo, prevejo a cedência mais de Centeno no que respeito a Portugal, acelerando o caminho para os excedentes orçamentais, do que a sua influência sobre os alemães, mesmo que apoiado por Macron. Só resta o prestígio e a melhoria de imagem de Portugal associada a este cargo, mas para os portugueses no seu dia a dia, poderá mesmo só haver uma maior dilatação  no tempo das medidas de subida dos seus rendimentos.

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