O Brexit e a reforma da UE

Foram ontem conhecidas algumas das consequências do Brexit e o que salta à vista é que parece haver mais cedências do Reino Unido do que da UE. Vejamos, a liberdade dos ingleses de negociar isoladamente na economia global terá como contrapartida deixar a Irlanda do Norte na economia europeia. Isto é perda de território do ponto de vista económico. No período de transição até 2020 não participarão nos órgãos decisores da UE, mas cumprirão as regras europeias. O Banco de Inglaterra já veio alertar para a possibilidade de redução da atividade financeira. Concluindo: aparentemente há perdas para o Reino Unido, que os ingleses acreditam que compensarão com novos acordos comerciais com outras regiões do mundo, o que não está concretizado, sendo somente uma possibilidade.
Também surgiu o escândalo com o uso de informação do facebook para se chegar ao voto favorável no Brexit, que parece pôr em causa a democracia, mas este parece um facto consumado com ou sem escândalo democrático.
Mas o Brexit também é uma oportunidade da UE se reformar e Macron e o novo governo de coligação na Alemanha aparecem com propostas nesse sentido, como um orçamento comunitário com receitas baseadas em novos impostos. O discurso de Costa no Parlamento Europeu propondo que Portugal pague mais, mas sem que a solidariedade europeia se desvaneça, com transferências dos países mais ricos para os países mais pobres, também foi importante para o debate das reformas que devem acontecer em consequência do Brexit. Como sabemos o Reino Unido era um contribuinte líquido da UE e a sua saída pode alterar a política de coesão e a PAC, os dois eixos onde mais se despendem os recursos financeiros da UE.
Sobre a PAC sabemos que teremos que igualar os apoios entre Estados por hectare, uma medida que vai prejudicar os países mais antigos e beneficiar os recentes, discussão que está em curso.
No campo financeiro, com a saída da City londrina, pode haver espaço para certas reformas avançarem, como a tributação das transações financeiras e a união bancária completa e não só parcial como acontece hoje.
À medida que se conhecem as consequências do Brexit vão surgindo oportunidades para um debate sobre que reformas a fazer na UE após o Brexit. Deste ponto de vista o Brexit pode ser a oportunidade para se reformar a UE, em função dos novos desafios em cima da mesa.

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