O crescimento de Portugal é virtuoso?

Portugal está a crescer, atingiu em 2017 a marca de 2,7%, a questão que se põe é saber se este crescimento é virtuoso?
Saber se um crescimento é virtuoso tem a ver com o impacto na Balança de Transações Correntes, isto é, se o crescimento não produz uma necessidade de mais endividamento, pois Portugal já está com um elevado nível de endividamento.
A direita considera que há crescimento virtuoso quando este resulta das exportações e do investimento, portanto um critério mais restrito, pois o crescimento via aumento do consumo está excluído, quando na minha formulação, só estará excluído se provocar endividamento externo, quer público quer privado.
A realidade é que têm sido as exportações e o investimento a criar o crescimento, portanto temos tido um crescimento virtuoso, mesmo em sentido mais restrito. 
Mas ficarmos por aqui na análise do crescimento do ano passado em Portugal é insuficiente, porque tem acontecido que com o crescimento do investimento próximo dos 2 dígitos temos tido um aumento significativo das importações, que tem criado problemas na balança comercial. Desta vez isso não aconteceu e a explicação é dupla:
* porque as exportações têm crescido bastante bem (cerca de 9%) cobrindo as importações;
* porque o investimento no setor da construção arrancou o ano passado depois de um longo período de quebra seguido de estagnação a níveis muito baixos.
Ora o investimento na construção civil costuma ter pouco impacto nas importações, o que nos ajuda a explicar este crescimento virtuoso.
A razão de ser da retoma do investimento na construção tem a ver com o «boom» do mercado imobiliário, com uma procura forte que acabou por esgotar o stock de casas em venda e arrastou este mercado para uma nova fase de construção de casas novas. Sem dúvida na base desde forte momento do imobiliário estão, a procura externa relacionada com os vistos gold e com o preço ainda baixo das casas quando comparado com o nível europeu, o que tem atraído investimento estrangeiro para este setor. A procura interna, menos pujante também não deixou de ser influenciada pelas baixas taxas de juro e concorrência entre bancos que tem feito baixar os «spreads».
Concluindo o crescimento em Portugal é virtuoso porque feito à custa das exportações e investimento, tendo este último menos impacto nas importações devido ao arranque do setor da construção depois da queda e estagnação que se arrastou durante vários anos.

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