A questão dos serviços públicos essenciais e os mais pobres

No post anterior escrevia que a prioridade ao défice limita a recuperação do investimento necessário nos serviços públicos essenciais, uma vez que a margem criada pelo crescimento económico e pela descida das taxas de juro da nossa dívida externa, é usada para reduzir o défice em vez de para aumentar o investimento nos serviços públicos.
Ora acontece que este investimento a acontecer iria reforçar o crescimento económico, o que geraria mais receitas para o Estado, mas também é uma forma de redistribuição do rendimento a favor das classes mais baixas que dependem totalmente dos serviços públicos no acesso à educação e à saúde, ou seja, a melhoria dos serviços públicos funciona como um salário indireto para os escalões de mais baixos rendimentos.
Vejamos, quem ganha o salário mínimo não foi abrangido pela redução do IRS, já beneficiou dos aumentos dos salários mínimos, mas ainda depende totalmente do Estado para a educação dos filhos e dos centros de saúde e hospitais públicos no acesso à saúde e são estas pessoas que não têm condições de acesso aos privados e sofrem com os atrasos nos acessos às especialidades médicas que hoje se verificam.
Portanto, as falhas nestes serviços públicos representam o piorar das condições de vida dos mais pobres e a sua melhoria, o contrário. Quem estudou Srafa sabe que a fixação de preços de um cabaz de mercadorias e serviços básicos, interfere com o nível do salário médio real dessa economia.
Outro problema que importa relatar, agora numa abordagem mais micro que macro, é o que o programa do Hernâni às 19 horas na SIC tem denunciado, a falta de transparência, a falta de soluções e casos aberrantes na segurança social, que afetam algumas pessoas. Sei que aqui o problema é de falta de eficiência de um serviço público que atende os mais necessitados e não estamos a falar propriamente de políticas sociais, mas na sua aplicação. Este problema resulta evidentemente da falta de pessoal, o que traduz os cortes verificados na função pública, mas também de algum insensibilidade dos profissionais.
Concluindo, o reforço dos serviços públicos é uma forma de transferir rendimentos para os mais pobres, melhorando a redistribuição de rendimentos. Também um funcionamento eficiente da segurança social melhora a vida de pessoas, sabendo que quem a ela recorre são os escalões mais baixos de rendimentos da nossa sociedade.

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