A nova postura política de Macron

A revolta dos coletes amarelos em França ainda está ativa, mas já conseguiu mudar o enfoque da política de Macron de apoio aos ricos para alguma sensibilidade à classe média, sob pena de não sobreviver politicamente. Não é uma mudança radical, mas acrescentar sensibilidade aos problemas da classe média.
A mudança da política de Macron de apoio à classe média, muito penalizada por impostos, vai aumentar o défice da França e colocar este país, previsivelmente, em défice excessivo em 2019, mas a sobrevivência política de Macron assim o exige. Um economista francês previu um défice de 3,5 % para 2019 com a implementação das novas medidas, como a subida imediata do salário mínimo em 100, passando para 1600€, bem como a libertação do pagamento de impostos das horas extraordinárias, dos prémios de produtividade, etc. Portanto, é à custa do orçamento de Estado que que o governo francês quer resolver esta revolta popular, entrando em choque com as regras da UE. Isto pode enfraquecer sanções contra a Itália, que alegará: porquê eles se a França faz o mesmo?
No plano europeu Macron apareceu com uma série de ideias de reforma da UE no discurso da Sorbone, como um ministro europeu das finanças, política europeia de emissão de títulos, etc, que eram aceitáveis, mas ainda não conseguiram convencer os seus parceiros, principalmente a Alemanha. Mas parece que parte da despesa que vai haver para responder à crise vai ser financiada pelo imposto sobre as transações bolsistas e sobre as grandes plataformas, abandonando a ideia da classe média mais contribuir para a transação energética. Ou seja, a França pressionada pelo povo vai avançar sozinha com impostos que a Europa anda a protelar por penalizar os mais ricos, não hesitando muitos governos em penalizar a classe média, que agora reagiu em força em França.
Ou seja, se na UE não há consenso para se implementarem reformas e continua a ser defendida uma política neoliberal que penaliza a classe média com impostos, Macron não hesitou em avançar sozinho em algumas questões que estavam em discussão à bastante tempo e num impasse, por necessidade de sobrevivência política.
Será que a França vai servir de exemplo a uma mudança de política na UE em que se avançam com as novas tributações sobre as transações em bolsa e o volume de negócios das grandes plataformas, matérias em que tem havido hesitações?

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Vantagens e desvantagens do FMI

A conflitualidade de objetivos de política económica

A minha experiência com a estomatologia (análise económica).