Os coletes amarelos e as eleições na Andaluzia

Hoje vamos escrever sobre economia política, particularmente sobre os coletes amarelos. Este movimento, espontâneo ou não, alertou o governo francês para a de-lapidação das classes médias através do aumento dos impostos indiretos, principalmente sobre os combustíveis.
Sabemos que o Estado Social para existir precisa de uma elevada tributação, normalmente através de impostos diretos, para o Estado funcionar à Robin Hood, isto é, tirando aos mais ricos para dar aos pobres. Com as crises económicas e a subida dos preços do petróleo as economias desaceleraram e para se manter os níveis de despesa foi-se aumentando os impostos indiretos sobre os produtos petrolíferos e outros para se manterem as receitas que suportavam o Estado Social. Aqui começou o desvirtuar do modelo original, pois os impostos indiretos são proporcionais e não progressivos, enfraquecendo o uso da política fiscal como forma de redistribuição do rendimento - como se o Robin Wood da era moderna começasse a assaltar os remediados.
Entretanto surgiram as preocupações ambientais e começou a falar-se da transição energética, que consiste em substituir a energia de origem fóssil por energias limpas. Como estas últimas estão em fase de inovação tecnológica têm custos mais elevados e para promover a transição energética é preciso financiá-la e lá se aumentam, novamente, os impostos indiretos, incidindo o seu peso sobre a classe média que use o automóvel como meio de transporte, solução que tem prevalecido.
Concluindo a classe média já pagava impostos diretos elevados para ter o Estado Social e a necessidade de financiar as energias limpas fez aumentar ainda mais a tributação indireta e as famílias da classe média viram o seu poder de compra degradar-se num processo contínuo e paulatino, até que a sua tolerância a esta situação acabou.
A proletarização por via fiscal está a acontecer e pode explicar o surgir de radicalismos e o crescimento da direita. Sabemos que sem classe média o centro político desaparece. Estas são para mim as causas político / económicas do movimento dos coletes amarelos.
Claro que há outros elementos a juntar à questão económica, a questão da insegurança e o receio da perda do emprego para os imigrantes (questão que aparece como dominante) e a própria política da UE com o seu pacto de estabilidade que dificultam as escolhas de política orçamental por parte de certos governos.
Falemos agora da Andaluzia onde o PSOE perdeu a maioria absoluta ao fim de 40 anos e onde a extrema direita chegou ao parlamento regional, com 12 deputados. Este resultado parece confirmar a minha análise, ainda que certas particularidades regionais possam estar também presentes.
A grande conclusão a tirar é que não se pode continuar a tributar a classe média ao ponto de lhes retirarmos com impostos um rendimento disponível condigno, senão os resultados eleitorais e os movimentos sociais vão favorecer a implantação da direita, que aparece pelo menos com propostas para o problema da imigração, enquanto a esquerda se enreda em contradições - a submissão à Europa -, falta de uma política clara sobre a imigração, sobrecarregar a despesa pública com a transição energética. Acho que é altura de haver coragem de avançar com a tributação das operações em bolsa e das grandes empresas tecnológicas, como alternativa ao aumentar o sacrifício sobre a classe média.

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