Estabilidade versus crescimento.

A actual crise está a colocar o problema da estabilidade como problema fundamental da economia portuguesa, porque coloca o acento tónico nas medidas tomadas no combate ao défice do Estado e indirectamente no problema da dívida pública, porque a redução do défice vai travar o endividamento externo. Por sua vez, o programa das privatizações vai actuar directamente sobre a dívida externa do Estado reduzindo-a.
Fica de fora deste apagar do fogo, provocado pelo ataque especulativo ao euro e também pela falta de estratégia de vários governos que investiram muito mas com baixa rentabilidade desses investimentos, as preocupações com o crescimento, que deviam ser o principal objectivo económico, depois de termos tido um fraco desempenho na primeira década do século XXI que agora termina.
Além disso, o aumento do IVA é uma medida que penaliza o consumo e o investimento, mas não as exportações, porque o IVA para as mercadorias e serviços exportados é dedutível, pelo que não tem qualquer efeito sobre estas. Por sua vez, a desvalorização do euro, ao fazer baixar o preço das mercadorias noutras moedas vai incentivar as exportações para fora da zona euro. Desta maneira a subida do IVA funciona como a receita tradicional da desvalorização do escudo, que promovia as exportações e diminuía a procura interna, com reflexos no consumo, investimento e procura de produtos importados.
O problema é que esta receita macroeconómica vai no sentido de estimular o sector exportador, que continua muito dependente da mão de obra barata. Já agora importa sublinhar, que a subida do IVA provoca uma subida dos preços, que com os salários congelados, vai provocar uma descida dos custos salariais e desta maneira teremos um novo incentivo aos sectores exportadores e maior restrição ao consumo interno (agravado com a subida do IRS).
Concluindo as medidas tomadas não promovem uma alteração estrutural na especialização da economia portuguesa, porque promovem os sectores tradicionais, e como já defendi em outros postes é necessário uma nova especialização da economia portuguesa com base em produtos com mais valor acrescentado. Assim, uma vez controlado o problema do défice vamos continuar a crescer pouco porque nada fizemos para resolver o problema estrutural que não nos tem permitido crescer. Estamos a adiar a resolução do problema de fundo português. Vamos sacrificar-nos para voltar tudo ao mesmo, mantendo-se a dificuldade em o país criar riqueza para melhorar o nível de vida dos portugueses, com excepção das elites que se conseguem proteger desta crise.

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