Assim vai a crise portuguesa

Enfim a TSU lá caiu, ficou sem efeito, sendo substituída por mais meia hora diária de trabalho.
O orçamento para 2012 tem uma travagem mais forte porque em vez de se reduzir de 5,9 para 4,6 a redução é de cerca de 8% para 4,6%, logo as medidas tiveram de ser mais pesadas. A responsabilidade da derrapagem, mais uma em 2011, é de ambos os governos, mas sem dúvida com maior peso do governo Sócrates.
Não concordo com este orçamento, porque afinal as gorduras do Estado ainda foram pouco cortadas e ainda não se discutiu, pelo menos abertamente, sequer o novo modelo de intervenção do Estado na economia e no social, pelo que me parece que estamos perante uma revolução empacotada, sem que haja debate público do que deve ser o papel do Estado na sociedade. A propósito de uma crise faz-se uma revolução da intervenção do Estado. Ora pelo que foi dito na campanha eleitoral pensava que o governo tinha um rumo traçado e que chegava ao governo e o aplicava. Mas preferiu fazer uma revolução sem a justificar e sem a assumir, com o único argumento de que é preciso cortar, porque não tenhamos dúvida que está a ser aplicada a cartilha neoliberal, basta para isso ver o profundo desprezo pelo mundo do trabalho e seus direitos que este governo está a demonstrar. As opções ideológicas estão escondidas sob a capa de rigor orçamental...
Com isto não quero dizer que não eram preciso cortes, mas aplicá-los-ia com base numa escolha assumida e transparente, com outras opções como tributar mais o capital e a propriedade e onerar a classe trabalhadora por conta de outrem só com o estritamente necessário.
Além disso penso que este plano de ajustamento é muito pesado e pode ser possível renegociá-lo, fico, pois, contente que esta ideia comece a aparecer nas esferas governamentais.
O sucesso deste plano estará na capacidade de restaurar a capacidade de financiamento à economia por parte do sistema bancário, uma condição necessária mas não suficiente para conseguir promover o crescimento. É aqui que está o nó górdio deste programa e até agora isto ainda não foi conseguido como o 1º Ministro reconhece. A renitência dos bancos em receber ajuda do Estado também só atrasa o encontrar de soluções e aqui o governo deve ser mais firme e não esquecer que o sistema financeiro foi quem mais beneficiou com os erros do passado e para eles contribuiu com o acesso ao crédito sem ratear e eliminar os casos de maior risco. Mais uma vez a ideologia está a limitar a capacidade de acção deste governo ao ser titubeante perante os bancos...
Para terminar a crise da zona euro ganhou agora um protagonista de peso, a Itália, o que torna as coisas mais sérias. Assim, não espero que o resto da Europa continue a crescer, pelo que as nossas exportações devem abrandar e a recessão agravar-se no próximo ano.
Concluindo há muitas indefinições na política caseira e o agravamento do envelope externo, principalmente com o caso italiano. Nas crises espera-se um governo firme e esclarecido e parece-me que nada disso está a acontecer, excepto em fazer a crise ser paga pelos mesmos. Não há pragmatismo pois este cede o lugar à ideologia, o que leva a excluir o capital dos sacrifícios, a titubear na intervenção no sistema bancário e a não hesitar em agravar a carga fiscal sobre o trabalho.


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