Quando a imprensa é do centrão: a entrevista ao António Costa

Ontem na RTP houve uma entrevista ao 1º Ministro, em que o tema central foi a banca. Sobre a banca foi abordada a Caixa, Novo Banco e veículo para resolver as imparidades.
Sobre a Caixa houve uma tentativa de voltar à questão da entrega das declarações de património, ou seja, saber se houve promessa do governo contra a lei vigente. Já postei que aqui o governo andou mal, como anda mal na remuneração para os gestores que vai continuar. Sobre o Novo Banco, Costa espera pelo BP. Sobre o tal veículo para as imparidades deve haver novidades até ao Natal.
Neste tema tenho divergências com o governo, sobre a Caixa a necessidade de transparência e gestores pagos de acordo com as remunerações dos funcionários públicos e governantes. No NB acho que estamos a fazer mais uma oferta a investidores, pois com o preço em cima da mesa, um milhão a um milhão e meio, é preferível o banco ser público. Acho bem a tentativa de resolver o problema da banca e das suas imparidades e não arrastar os problemas, mesmo que isso tenha o efeito de certos clientes (ditos do regime) passarem a incumpridores e por arrastamento haver mais imparidades nos bancos privados. O essencial sobre a banca é que esta tenha capacidade de responder à procura de crédito, que deve aumentar com a aceleração do investimento esperada e que parece já estar a acontecer, com o crescimento de 7,7% anunciado do investimento, em relação ao ano transato (dados do 3º trimestre?). Logo a resolução de imparidades dos seus ativos é um bom caminho, quer na Caixa quer nos privados.
Houve também uma pergunta sobre a dívida pública, a que Costa respondeu que era preciso resolver o assunto na Europa, mas achando que nada avançará até às eleições na Alemanha em outubro do próximo ano. Entretanto, os juros voltaram a subir por causa da instabilidade italiana pós referendo, o que a manter-se pode agudizar o problema da dívida e não adiar respostas. Aqui Costa empurra com a barriga à espera da Europa, que pode chegar tarde!
Concluindo, esta entrevista passou ao lado do que importa à maioria dos portugueses, excetuando a questão dos precários e da dívida, colocando no centro do debate político, questões não centrais para a vida dos portugueses, foi uma entrevista feita por defensores do centrão, onde o que interessa são alguns pormenores da banca e as questões levantadas pela oposição de direita. Sobre o relacionamento entre governo e seus apoiantes (o PCP e BE), pouco foi explorado, porque o que é bom para a arraia miúda é secundário para estes jornalistas. Mas a RTP é uma empresa pública... A questão do salário mínimo foi ignorada, as questões laborais, foram perguntadas mas não houve insistência, ou seja, o tempo da entrevista foi acima de tudo para as questões que interessam aos negócios, não para questões que interessam a quem é essencial na criação de valor, os trabalhadores!

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