A propósito da redução da TSU como contrapartida do salário mínimo.

Está um debate político acesso sobre a redução da TSU como contrapartida da subida do salário mínimo. Analisemos a situação.
Em primeiro lugar concordo com Assunção Cristas que o governo não devia ter assinado um acordo que não estava em condições de cumprir, porque não assegurou na AR uma maioria de apoio a esta medida. Contou com uma coerência do PSD e deu a medida como aprovável, o que parece que não vai acontecer. O PSD fazendo política optou por valorizar o contexto, fazendo oposição e dificultando a vida ao governo, em vez de se manter firme nos seus princípios, posição legítima, que contudo pode ter custos eleitorais e abriu espaço a que a linha social-democrata se fizesse ouvir na contestação ao líder Passos Coelho. Será uma situação em que os fins, atrapalhar e desgastar a governação, se sobrepõe aos meios, ao alterar a sua posição de princípio.
Os partidos mais à esquerda, PCP e BE, coerentes com a sua posição de princípio acham que haver descida da TSU para compensar uma subida do salário mínimo, será uma forma de manter trabalhadores a ganharem o salário mínimo mais tempo, porque desta maneira os patrões tiram proveitos financeiros, por redução dos custos. Estão contra esta medida, por contrariar o objetivo de melhorar a vida dos trabalhadores, mantendo-lhes o salário no mínimo em vez de haver melhorias salariais mais acentuadas.
Assim, o PS, que procurava ter duas maiorias para governar mais ao centro, uma de esquerda na AR e outra de direita, para se demarcar da esquerda pontualmente, pode ver os seus planos políticos tolhidos. Esta é um pouco a análise de Francisco Assis, que acha que esta contradição pode levar a eleições.
Ainda há um ponto a realçar, a importância dada à concertação social, que aparece como uma câmara corporativa onde se procura concertar trabalhadores e patrões, aceitando-se pois a tese de que é possível conciliar interesses, quando a maior parte das vezes são os trabalhadores que perdem e quando não é o caso, é preciso haver contrapartidas. Ora a Câmara Corporativa foi desmantelada com o 25 de Abril e emergiu uma Assembleia democrática que tem a última palavra.
Concluindo a ideia de Costa governar como Guterres, ora com acordos à esquerda, ora com acordos à direita, parece que não se vai repetir, obrigando o governo a negociar mais, perdendo margem de manobra para iniciativas próprias, que vão contra os partidos que o suportam, impedindo, assim, o governo de governar mais ao centro, o que parece ser o objetivo último do PSD.

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