A escassez de recursos e o SNS

A escassez de recursos é o principal problema económico: há múltiplas aplicações para recursos escassos. Vejamos agora este problema no âmbito do setor da saúde.
Em primeiro lugar é patente que o setor da saúde está com uma prestação insuficiente face à procura por serviços de saúde. Não sou especialista nesta área, mas conheço alguns números que nos devem fazer refletir.
Em primeiro lugar ao longo dos 40 anos do SNS os privados têm vindo a conquistar espaço ao público, estando hoje o público com 60% dos cuidados prestados, mas este valor é bastante abaixo do que se passa na Europa, que tem uma média de 85%. Este valor traduz uma política paulatina de passar uma série de cuidados de saúde para o privado, mas financiados por dinheiros públicos. mais uma vez o bloco central tem sido muito amigo da iniciativa privada financiada com dinheiros públicos.
 Só a título de exemplo nos serviços de imagiologia há capacidade instalada não aproveitada, mas há cada vez mais outsorcing destes exames nos privados, como política deliberada do governo e de muitas administrações hospitalares. Faz-se o mínimo para assegurar as urgências e os serviços de internamento, mas o resto é feito fora, incluindo uma parte dos relatórios médicos feitos internamente. Ou seja, há recursos do SNS usados para promover os privados à custa do enfraquecimento dos serviços públicos. Hoje em imagiologia e nas análises já 90% das necessidades são providas por privados. Mas há capacidade instalada no público sem ser aproveitada para favorecer o negócio aos privados.
Numa altura em que o défice do Estado tende a aproximar-se de zero, há cada vez menos recursos disponíveis, pelo que a saúde não pode ver o seu orçamento crescer para responder às necessidades das populações, mas há muito dinheiro que pode ser gasto de outra maneira para fortalecer o SNS. À cabeça deveria-se tirar o máximo partido da capacidade instalada e só depois ir para o privado. Bastava ter esta preocupação, ou seja, aproveitar ao máximo os investimentos já realizados no público, para haver muitas melhorias nos serviços hospitalares sem gastar mais dinheiro. Para isso tem de haver vontade política e haveria muitos serviços públicos a funcionar melhor. Nas análises porque não deveria ser obrigatório fazê-las no público quando requisitadas pelos Centros de Saúde e só ir para fora o que não houvesse capacidade de resposta nos hospitais?
A lei de bases da saúde trouxe este problema à discussão com a esquerda a querer aproveitar ao máximo a capacidade instalada e a direita a continuar a promover o privado, à custa da pouca eficiência do público.
O caso que exige coragem é o dos médicos que só trabalham no público de manhã e de tarde vão para o privado, com situações menos claras de levar alguns doentes para o privado para acelerar a resolução dos problemas. É preciso resolver este conflito de interesses de que ouço falar à anos, mas ninguém o enfrenta.
Concluindo um primeiro passo para defender o SNS é separar as águas entre público e privado tirando o máximo de rendibilidade da capacidade instalada. Isto pode ser feito sem gastar mais recursos financeiros. 

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