A Europa vai ter uma política monetária articulada com a política orçamental?

Os economistas sabem que a política monetária é um instrumento essencial de intervenção dos Estados e é decisivo para se defender uma moeda e controlar fenómenos inflacionistas e mesmo deflacionistas. O estudo comparado das épocas de crise realça a importância da política monetária e o seu uso atempado, muitas vezes em articulação com a política orçamental.
Como dizia hoje um político grego, uma das causas da crise foi termos moeda sem plenitude da política monetária, ou seja, a arquitetura do euro tem estado incompleta.
Na semana passada o Tribunal de Justiça da UE deu luz verde à utilização do «quantitative easing», ou seja, à compra de dívida pública para injetar moeda na economia, o que é normal nas outras zonas monetárias, tornando a política monetária do euro equivalente à do dólar nos instrumentos à sua disposição.
Esta decisão levou a Suiça a acabar com a política de taxa de câmbio mínima relativamente ao euro, por volta dos 1.2 francos suiços para 1 euro. Esta medida já traduz a possibilidade do euro vir a desvalorizar com a compra maciça de dívida pública, mesmo que prejudicando as empresas suiças exportadoras no setor dos relógios e chocolates.
A razão que está por detrás alterações é a expetativa de poder existir deflação na zona euro, o que exige da política monetária a necessidade de injetar euros no sistema, bem como uma política orçamental menos rígida. Com isto perderam os alemães e os seus receios de políticas inflacionistas, subjugando-se à realidade.
A par destas evoluções positivas, continuam as pressões sobre os gregos, por parte do FMI e Juncker, com algum desrespeito dos povos poderem decidir os seus destinos.
A «interpretação inteligente» das regras orçamentais, com o desconto do investimento público feito, vai no sentido de se reconhecer o fim das políticas de austeridade e/ou a cobertura da França e Itália, que não cumprem as regras. Esta é outra evolução positiva, ainda que tímida.
Estas evoluções no caminho certo permitem dotar a Europa de uma politica monetária completa ao nível dos instrumentos e a possibilidade de ela se articular com a política orçamental. Mas tudo isto se faz lentamente para não ser muito perceptível o recuo em relação às políticas de austeridade rígidas implementas nos anos recentes, tendo como cobaias a Grécia, Portugal e Irlanda.

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