Consequência do fim das taxas de juro baixas (negativas).

O ministro das finanças avisou ontem que o período das taxas de juro baixas estava a chegar ao fim. Explicou também que esta orientação de política monetária estava a esgotar-se com o crescimento real da Europa acima de 2% e com a taxa de inflação a aproximar-se de uma média de 2%.
Concordo com esta abordagem e acho relevante a chamada de atenção do ministro das finanças, se de facto se aproveitar ao máximo o período de juros baixos, que para o nosso país, só foi relevante depois da decida do grau de risco da nossa dívida, de uma das agências de rating mais importantes, portanto, à cerca de um mês. Há muito trabalho a fazer para baixar o nível médio de juros pagos pela dívida e aproveitar esta janela de juros baixos, que ainda se vai manter, mas que sabemos está perto do fim. Esta ação é consensual.
Menos consensual será a diminuição da dívida pública de forma mais acelerada, pois esta medida implica uma redução mais acelerada do défice, com a consequência de esta ação limitar a capacidade de crescimento, pois haverá menos apoios públicos ao investimento, menos investimento público e menor procura interna, pois os rendimentos serão repostos mais lentamente, ou seja, o modelo da direita. Sobre o assunto o ministro disse que vai procurar reduzir a dívida, sem comprometer a reposição de rendimentos. Só podia ser assim com o apoio parlamentar à esquerda, se o governo se quer manter.
Mas falar do fim de taxas de juro baixas também é falar de condições boas para a realização de investimento privado. O que tem impedido este de aumentar é a fragilidade do sistema bancário derivada das imparidades de crédito mal parado, do lado da oferta, e o endividamento excessivo de muitas empresas, que lhes limita o acesso ao crédito, do lado da procura. Sei que com o passar do tempo estes estrangulamentos na economia se vão resolvendo quando há crescimento, mas é preciso que se resolvam antes da subida dos juros, senão não aproveitam esta conjuntura favorável.
Estas limitações estruturais que ainda pendem sobre a nossa economia, apesar de estarmos a crescer acima dos 2%, vão fazer que não vamos convergir em termos reais com a Europa, uma vez que as previsões de crescimento dos restantes países europeus começam a ultrapassar o nosso crescimento a partir de 2018. Isto sim será preocupante e uma maior redução do défice e da dívida podem agravar esta diferença (gap) e portanto serão indesejáveis.

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