O Sporting e o combate ao populismo

Aparentemente este não é um tema económico, mas tudo o que tem a ver com ideias é um tema de economia política e da democracia. O caso do Sporting é um caso de confronto de ideias porque está em causa o respeito por princípios democráticos de separação de poderes, em que um dos órgãos controla os outros todos, está em causa o respeito pela diferença de pensamento, está em causa não tratar a diferença com linguagem agressiva.
Vejamos cada um destes princípios. O primeiro é que quem governa / gere deve ser um órgão diferente de quem fiscaliza e de quem tem a última palavra e superintende as reuniões de sócios. Este é o velho princípio da separação de poderes que vem desde a revolução francesa. Não faz sentido o governo/gestão nomear a comissão de fiscalização e o órgão que superintende à reunião de sócios. Já faz todo o sentido ser o representante dos sócios a nomear e sempre com carater provisório comissões transitórias que substituam os órgão eleitos e que se demitiram até serem substituídos por processo eleitoral. Este princípio já foi aceite pelos tribunais. Mas querer alterar princípios democráticos é um sinal de absolutismo.
Outro princípio democrático é respeitar os pensamentos diferentes. Exemplo: quem está contra mim é sportingado ou quem está contra mim é terrorista. O respeito pela diferença é a base da democracia e quando a diferença não é respeitada estamos a abrir as portas para a não democracia e a voltar ao antes da revolução francesa e ao absolutismo.
Por fim e decorrente do segundo princípio, temos que o uso de linguagem bélica para tratar diferenças de opinião é abrir as portas a uma «guerra» que não respeita as diferenças e visa acabar com elas subjugando-as.
Tudo isto tem acontecido no Sporting pela mão de Bruno de Carvalho, pelo que o afastamento deste senhor é uma luta pela reposição dos princípios democráticos num clube de futebol. Mas é também um combate ao populismo, que se carateriza por eleger um tema secundário, como a imigração, tornando-o central na luta política e jogando com o medo de este fenómeno ser um meio de trazer os terroristas para o Europa. É claro que tal pode acontecer, mas o essencial é que a maioria das pessoas imigrantes fogem da guerra, ou da perseguição ou da fome. Populismo é portanto tornar um problema acessório ou secundário em principal. Bruno de Carvalho fez o mesmo, a rivalidade com o Benfica foi transformada em problema principal e quem não está com ele está pelo Benfica, que neste caso seriam os sportingados. Quem não está por ele é terrorista. A linguagem bélica para anular diferenças de opinião também é uma forma de populismo.
Concluindo a batalha que se trava no Sporting é uma batalha pela democracia e contra o populismo, no sentido de inverter a ordem dos problemas, tornando problemas secundários em principais. Os seus adversários pelo contrário têm dado sinais de respeitar estes princípios, recorrem aos tribunais para sanar as diferenças, não impedem o seu adversário de se recandidatar e colocam nos sócios a resolução do conflito através do voto.
Por fim realçar que o problema principal no Sporting é a possibilidade de falência da SAD a que se chegou durante a gestão de Bruno de Carvalho, em que este faz parte do problema e não da solução, uma vez que o seu afastamento pode ajudar a resolver o problema dos jogadores que alegaram justa causa, quer pelo tratamento que Bruno de Carvalho os brindou quando dos insucessos, quer também pelo que aconteceu na academia de Alcochete.

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