Política monetária: aproxima-se do fim a política de juros baratos

O banco central Europeu anunciou que a partir de setembro vai acabar com o «quantitative easing», ou seja, acaba com o programa de recompra da dívida pública dos países do euro. Este é um sinal claro que estamos a chegar ao fim das taxas de juro baratas (nulas ou negativas).
Contudo foi anunciado que até 2019 as taxas de juro do BCE não serão alteradas, continuando muito baixas. A taxa de juro do BCE é uma taxa diretora, que serve para indicar aos bancos e outros operadores as outras taxas de juro a praticar, como por exemplo a euribor, que é uma taxa determinada pelo mercado em função da taxa de juro do BCE e da oferta e procura de fundos.
Estas medidas refletem o aproximar da taxa de inflação do seu objetivo, os 2%, resultado da retoma económica que se vai consolidando na Europa.
Consequências destas medidas, a prazo as taxas de juro ativas (dos empréstimos bancários) e passivas (dos depósitos) vão subir. A consequência mais importante para Portugal é que o serviço da dívida pública vai crescer, ou dito de outra forma, a partir 2020 vamos aumentar a despesa pública com juros. Esperemos que o crescimento económico compense este acréscimo de despesa com juros, para não se ter de cortar nos gastos sociais, como saúde e educação e travar a reposição de rendimentos, para se manter o objetivo de se atingir o superavit governamental.
Do lado das empresas, os juros vão tender a ficar mais caros, pelo que as empresas endividadas têm de fazer um esforço suplementar para controlar a dívida, de forma que o serviço desta não se torne incomportável.
Do lado dos consumidores / poupadores, a remuneração das suas poupanças vai subir e deixar de ser negativa em termos reais, aumentando o incentivo a poupar e o desincentivo ao consumo.
Os que pedem empréstimos para comprar casa devem pedir simulações com taxas de juro mais elevadas para não serem surpreendidos na sua taxa de esforço para pagar o empréstimo.
Concluindo, estar atento aos sinais de política monetária é crucial para muitas decisões económicas, no Estado, nas empresas e nas famílias.

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