As balizas para o orçamento de 2019

Hoje acredito que teremos orçamento para 2019, com o PS a virar ao centro, afastando-se das esquerdas, para ter hipótese de chegar à maioria absoluta, e as esquerdas a aceitarem pequenas melhorias de rendimento, nos pensionistas, na função pública e em serviços básicos, por exemplo nos passes nas áreas metropolitanas. Portanto, o PS distancia-se em muitas matérias de propostas mais à esquerda, mas PCP e BE aceitam as melhorias já negociadas, porque para pior não se vai e há pequenos passos positivos para os setores já mencionados.
Hoje já se fala pouco do grande esforço de redução no défice, que vai ficar próximo de zero, nos -0,2%, quando nos anos anteriores se discutia se a redução do défice podia ter sido mais lenta para permitir, por exemplo mais investimento na prestação de serviços públicos de cariz social, na saúde e educação. Fala-se menos, as vozes são residuais, porque as nuvens negras no horizonte aconselham a rápida redução do défice, para que a dívida pública acelere o seu decréscimo. As nuvens negras têm a ver com o regresso do protecionismo por ação do Trump, com a crise italiana -que não respeita as normas orçamentais da UE -, com o Brexit e com a escala do preço dos combustíveis. Com toda esta possível instabilidade, estaremos mais abrigados sem défice e com a dívida pública a decrescer por via do saldo primário positivo (sem juros), que explica a trajetória descente da dívida pública que se espera se situe nos 117% depois de ter estado nos 130%. 
Estas opções macro económicas têm ou não impacto nas pessoas, nas suas vida? Afastar do horizonte a probabilidade de crise é positivo a médio prazo, mas sem impacto no curto prazo e há quem precise de soluções para hoje. Se essas pessoas forem as beneficiadas das folgas existentes, estaremos a conciliar o médio / longo prazo, com as necessidades individuais no curto prazo. Esta é a negociação de bastidores que se realiza entre o PS e o PCP/BE. Aqui parece haver consenso, pois o PS mesmo na sua deriva centrista para fins eleitorais, parece estar sensibilizado para ir promovendo as pequenas melhorias que se traduzem na melhoria efetiva da vida das pessoas, em especial dos mais necessitados.
Claro que com isto não há reformas estruturais, na saúde, apesar de se debater a lei de bases, na educação em que fogem da contradição entre a autonomia e a flexibilização curricular com a manutenção dos exames nacionais, na gestão das escolas, etc. Portanto esta é uma legislatura com poucas reformas de fundo, centrada na melhoria de vida dos portugueses, mas este esforço está limitado pela necessidade de reduzir o défice e a dívida pública.

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