A questão do salário mínimo: crença no mercado vs dependência do OGE.

Decorreu ontem mais uma reunião da concertação social para debater o salário mínimo (SM), onde se discute se o SM deve ascender a mais de 600€  (só para lembrar em Espanha o salário mínimo vai subir para 900€). Como de costume há a posição dos sindicatos de acordo com esta medida e a posição dos patrões que aceitam a medida se houver contrapartidas financeiras, quer em subsídios quer em redução de impostos.
Até aqui nada de novo, não deixando de realçar o aproveitamento dos patrões no sentido de obter qualquer coisa mais no OGE2019, que consideram pouco amigo dos patrões. Mais uma demonstração de um espírito empresarial subsídio dependente, que carateriza o nosso tecido empresarial que sempre procurou no Estado uma teta para obter ganhos extras, isto é, fora do normal funcionamento do mercado.
De novo, e digno de realce, foi a posição do Ministro Vieira da Silva, que respondeu que a contrapartida da subida do salário mínimo nacional seria a dinamização do mercado interno que beneficia as empresas pelo lado do aumento da procura.
É sempre positivo o governo ir recuperar o modelo económico desta legislatura que foi aproveitar a descida dos juros pagos pela dívida e a folga via aumento de impostos provocada pelo crescimento económico para melhorar rendimentos, que depois no âmbito de um circulo virtuoso, vão por sua vez dinamizar a procura e desta forma as vendas das empresas, com o correspondente acréscimo de lucros.
Ou seja, o patronato prefere continuar no paradigma de ir buscar benesses ao Estado, enquanto o Ministro responde que há benefícios para as empresas via funcionamento do mercado se os rendimentos continuarem a crescer, neste caso via SM. Ironizando, os patrões são mais keynesianos e o governo mais neoliberal, na medida em que os primeiros acreditam somente no OGE e o segundo acredita no funcionamento do mercado, o que não deixa de ser paradoxal.
Concluindo, a discussão da subida do SM acima dos 600€ explicitou o tipo de empresariado que temos, subsídio dependente, e permitiu o reafirmar por parte do governo de um modelo económico assente na recuperação de rendimentos com o consequente aumento da procura interna.

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