Notas sobre o acordo do Brexit

Já foi anunciado há alguns dias o draft do acordo para o Brexit, a implementar após março de 2019. O primeiro comentário é que do lado dos 27 houve união e do lado dos britânicos há profundas divisões entre partidos e no próprio partido conservador da PM May.
O que a Europa propôs foi basicamente uma situação parecida à da Noruega, isto é a Britânia vai fazer parte de uma união aduaneira com a UE, até 2020 podendo esta transição ser prorrogada.
Explicando melhor na Europa houve dois processos de integração inicial a CEE/UE e a EFTA, depois com os alargamentos estes dois processos foram convergindo, isto é, os países da EFTA foram aderindo à CEE/UE, tendo os que ainda ficaram de fora foram ficado ligados à CEE/UE através de zonas de comércio livre ou uniões aduaneiras, como foi o caso da Noruega. Procurou-se assim preservar os avanços que se conseguiram com os processos iniciais de integração nos anos 50 e 60, com zonas de comércio livre ou uniões aduaneiras (a diferença é nesta última existirem pautas exteriores comuns).
No caso dos britânicos a intenção é manter um mínimo de integração, a livre circulação de mercadorias com pauta exterior comum no período de transição, mas sem políticas integradas. Foi o que ouvi a PM May dizer, ficam de fora da política agrícola comum, da política de pesca comum, do mercado comum da livre circulação de trabalhadores e de capitais. Fiquei surpreendido de haver acordo para a pauta exterior comum, ainda que transitoriamente, pensava que ficariam só numa zona de comércio livre, que lhes facilitaria a negociação de novos acordos fora da UE.
Do lado da Europa houve união e os 27 fizeram um bloco unido, o que dificultou a negociação do Reino Unido que pensava que podia tirar partido de divisões no seio da UE. Esta união visava servir de aviso a novas tentativas de abandonar a UE. Apesar das diferenças a defesa da união sobrepôs-se e a unidade foi mantida e foi mandada uma mensagem para futuras situações: não tentem sair que a fatura vai ser pesada.
No lado dos ingleses podemos dizer que os eurocéticos, principalmente dos conservadores, queriam mais (liberdade), que a UE não queria outorgar. Os trabalhistas querem novas eleições e só falam em novo referendo e só para o acordo negociado, com novo governo, portanto estamos perante uma posição mais tática, sentido o cheiro da queda do governo e tudo farão para o conseguir.
Concluindo na Europa foi dada aos ingleses uma solução semelhante à da Noruega, não aceitando menos que isto. Os Ingleses queriam ainda menos, mas o governo percebeu que esta solução não sendo a ideal do seu ponto de vista permitia uma transição suave e com sobressaltos controláveis.

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