A questão da gestão da dívida pública: ou défice de solidariedade europeia?

Como sabemos a UE não quer ouvir falar da dívida pública portuguesa e o nosso governo tem uma estratégia que é colocar a dívida grega na agenda europeia, para depois se falar dos casos português, espanhol e italiano.
Esta estratégia é satisfatória se nenhuma catástrofe acontecer que crie instabilidade nas economias do ocidente. Ora se virmos o que se passa nos juros da dívida pública, concluiremos que a subida dos juros verificada reflete mais causas externas do que internas, pois verificou-se num período de boas notícias para a economia portuguesa, quer em termos de crescimento, quer em termos de bênção europeia ao OGE2017. As causas externas são-nos explicitadas pelo Sr. Draghi, que alerta para as incertezas que adveem do Brexit, da eleição de Trump e das próximas eleições europeias, particularmente na França e  na Alemanha e do referendo italiano.
Estas incertezas não boas para uma economia ainda frágil, ainda que em recuperação, dependente da nota de uma única agência e reconheçamos com uma dívida que lhe bloqueia o potencial de crescimento e inversão dos níveis de pobreza a um ritmo mais acelerado por via de políticas públicas, estando esta reversão do nível de vida mais dependente do crescimento económico, que está restringido pelo nível de endividamento do Estado e das empresas, portanto, estamos num circulo não virtuoso.
Neste cenário qualquer notícia negativa pode levar-nos para o abismo, quer por via da diminuição do crescimento, quer por via de expetativas negativas que nos retirem a nota da agência canadiana ainda positiva.
A solução não é mudar de política, pois a política faz-se para as pessoas (não para as elites económicas) e o caminho de combate à pobreza tem de continuar, quer por via da ação direta do Estado (como a melhoria das reformas mais baixas prevista para 2017) quer por via da recuperação económica. Era uma grande ajuda se um terço dos juros fosse perdoado pelos países europeus, dando-nos a folga necessária para combater melhor a pobreza e melhorar a economia e desta forma afastar-nos do abismo ainda mais.
Concluindo estamos numa fase de fraca solidariedade europeia e esperemos que nada de grave aconteça no mundo que nos coloque pior e mais dependentes dos parceiros europeus, que nessa altura teriam de ajudar para não pôr em causa o caminho já percorrido na união dos estados europeus, por via de um ataque especulativo a um dos seus elos mais fracos. Esta ajuda europeia via diminuição dos juros era preventiva de uma crise que ainda pode estar no horizonte e que a concretizar-se exigirá um esforço maior deles. Mais uma vez a prevenção é melhor que o tratamento da doença.


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