Os números do crescimento do PIB serão anormais?

Não sendo normal escrever dois postes na mesma semana, acho que a vinda a público dos números para o terceiro trimestre, justifica este poste adicional nesta semana.
A subida de 0.8% em cadeia, ou seja, em relação ao trimestre anterior e de 1,8% em relação ao seu valor homólogo (mesmo período do ano anterior) do PIB são de facto números fortes no contexto atual, não expetáveis pela oposição, mas dentro das previsões do governo.
Para a oposição deitaram abaixo a sua estratégia de denegrirem as escolhas económicas do governo, como sendo uma estratégia errada conducente a um crescimento anémico. A realidade calou esta retórica.
Para o governo são números que acompanham as previsões e de certa maneira dão razão à sua estratégia de reforço do consumo interno, por via da reposição de rendimentos.
Vejamos, apesar de ser uma previsão rápida, sem se conhecer com profundidade o que está por detrás destes números ao pormenor, estes devem-se principalmente ao desempenho do turismo (forte crescimento) e ao consumo interno, pelo motivo já referido.
Do ponto de vista teórico, fazia sentido a estratégia seguida, de repor salários e eliminar a sobretaxa, que permitiria melhorar o consumo, principalmente de bens de primeira necessidade, o que não levaria a um aumento equivalente das importações. Tanto mais sentido quanto o investimento tinha valores fracos e os programas apoiados pela comunidade europeia estavam em fase de arranque, pelo que não se esperaria que o investimento tivesse alterações significativas em 2016, o que os dados confirmam. Quanto às exportações de bens, estando também alguns parceiros tradicionais ainda em crise, como Angola e Brasil, esperar-se-iam poucas melhorias, o que de facto aconteceu, sendo de realçar as alterações positivas, mas pouco significativas, das exportações para a China e Espanha. Já a subida do turismo beneficiou da instabilidade na parte africana da bacia do mediterrâneo, mas que os agentes económicos souberam aproveitar e da boa imagem que Lisboa e Porto têm tido nos últimos anos (já agora começa a fazer sentido a taxa turística aplicada na capital em conjunto com as melhorias nas infraestruturas em que se planeia aplicá-las, criando-se um circulo virtuosa de mais turistas e melhores infraestruturas, que atrairão mais turista).
Concluindo, a estratégia do governo parece ter feito sentido tirando o tapete à visão catastrofista da oposição. As negociações do OGE2017 mostram que este caminho vai continuar agora com subida das pensões mais baixas (parece haver a possibilidade de um acordo de subida de 6 € para as pensões mínimas aumentadas no governo anterior, além dos 10 € para as outras). Por outro lado, espera-se que em 2017 o investimento tenha mais peso no crescimento, quer por via do Portugal 2020, quer por via do acelerador, isto é, por arrastamento da melhoria do consumo e consequente clima económico.

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