Explicando melhor a questão dos pensionistas.

A proposta do governo relativa aos pensionistas foi acusada de fraude, ilusionismo, corte nas pensões após 2024. O governo aparece a dizer que nada se pode dizer sobre 2024, que é a maior subida de pensões da última década, que é necessário garantir a sustentabilidade da Segurança Social, ou seja, iniciou-se um plano de marketing para salvar a medida. 

Mas explicando melhor, o governo está obrigado por lei da Assembleia da República a proceder a um aumento das pensões que leve em conta o crescimento económico e a inflação do ano anterior. A inflação de 2022 está nos 9% e o crescimento é excepcional entre os 6,5 e 7%. Assim as pensões deveriam subir cerca de 8%. A medida do governo é pagar este aumento em duas parcelas, uma por antecipação em outubro de 2022 e outra, corresponde a um aumento das pensões mensal em 2023.

Expliquemos, para uma pensão de 1000€, em vez de haver um aumento mensal para 1080 (8%), o pensionista receberá só 1045 (4,5%) em 2023 e terá uma antecipação de meia pensão em outubro de 2022, ou seja receberá 500€.

Resumindo estamos perante uma antecipação de um aumento em 2022 e perante pensões menores do que o previsto na lei que compensa esta antecipação. 

Até aqui estamos perante um aumento de pensões, que são históricos devido à inflação e ao crescimento económico, mas uma parte é antecipada.

O problema para os pensionistas põe-se a partir de 2024, pois os aumentos futuros incidiram sobre uma base menor, os 1045 em vez dos 1080 €, ou seja, se as pensões aumentarem 2% em 2024, o pensionista do nosso exemplo receberá 1066 (1045*1,02) em vez de 1101,6 (1080*1,02), portanto 35,6€ a menos.  

Este cálculo explica porque a partir de 2024 se pode falar em aumento das pensões, com um corte significativo em relação à expetativa da lei, como a oposição faz. Mais este procedimento é uma forma de se proceder a um corte futuro de pensões equivalente à proposta do PSD no tempo da Troica de Maria Luísa Albuquerque.

Concluo que apesar de estarmos perante um aumento de pensões a forma como é feita representa uma reforma com cortes nas pensões futuras correspondente ao corte proposto pelo PSD no tempo da Troica.

Houve aqui por parte do PS uma tentativa de fazer uma reforma da lei em vigor usando a ilusão monetária provocada pela inflação e um truque de ilusionismo, ao antecipar para 2022 parte de um aumento de pensões que devia ocorrer em 2023. Uma vez desmascarada esta manobra encapotada, entrou em cena o marketing político para tentar salvar a face, como dizer que sobre 2024 nada foi ainda dito e que é preciso garantir a sustentabilidade da SS. 

Certos políticos portugueses ainda consideram os seus eleitores ignorantes e manobráveis e que em período eleitoral esta manobra seria apagada pelo tempo. Tudo isto retira credibilidade à classe política e afasta os eleitores dos partidos.

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