Previsões 2023 - parte 2

 Depois do último texto, a entidade de acompanhamento das contas públicas da AR apresentou uma previsão de crescimento de pouco mais de 1%, pelo que se perspetiva uma desaceleração acentuada do crescimento económico, de cerca de 5% entre 2022 e 2023.

A explicação dada no texto anterior centrava-se na política monetária, mas agora temos dados sobre a política orçamental que apresenta um superavit de 2,3 mil milhões, que nos indica que, além da política monetária, esta tem sido também restritiva. Um superavit acentua, em vez de contrabalançar a política monetária restritiva conduzida pelo BCE, porque retira dinheiro da economia através de impostos e não devolve através do lado da despesa pública.

Em conjunto com a inflação (que quando os rendimentos não a acompanham, como é o caso) temos um efeito na repartição de rendimentos, com a queda dos salários correspondente a cerca de 1 salário mensal (8%*14=112%).

Assim, a contração do consumo também se faz via redução do poder de compra, neste caso, e não só via redução do crédito ao consumo quando os juros aumentam, por efeito da política monetária.

Já agora completo os efeitos nos juros sobre o investimento com exemplo referente ao crédito à Habitação. Os juros vão aumentar a prestação da casa, fazendo com que o montante máximo procurado para um certo rendimento familiar, baixe para ser compatível com a taxa de esforço. Por exemplo antes  da subida dos juros uma família com 2000€ podia aspirar a um apartamento de 220.000€ e agora só poderá aspirar a um apartamento de 180.000€.

Concluindo a política orçamental e fiscal em Portugal está a acentuar a política monetária restritiva do BCE. A alternativa era compensar com um défice - ainda que sujeito à regra de 3% - que estimulasse a procura via compensação dos rendimentos perdidos com a inflação e/ou apostar forte no investimento público.

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